A perigosa incógnita do euro

Lisboa, 9-agosto – A Europa está assustada. As bolsas de todo o mundo despencaram e a imprensa classifica o dia de ontem, por conta disso, como a “segunda-feira negra”. Ou o 8 de agosto de um minicrash, como resultado da crise norte-americana e seus reflexos em todo o mundo (também o Ibovespa, no Brasil, chegou a níveis considerados insuportáveis, só comparado ao que aconteceu em 2008).

Não falta quem veja logo ali um quadro ainda mais assustador e quase não há vozes tranquilizadoras. Quem precisa, silencia. Como é o caso do Ministério de Economia de Portugal, que se negou a comentar uma eventual revisão das projeções da economia, já que uma das tábuas de salvação do país – as exportações – poderão sofrer forte queda com um quadro de agravamento da crise.

Um dos principais questionamentos que são feitos é sobre o futuro do euro. Poucos querem acreditar que ele desapareça, mas Desmond Lachman, ex-diretor adjunto do FMI, não tem muitas esperanças. Ele só vê uma solução: que a Alemanha e a França concordem em aumentar substancialmente o Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Isto porque o fundo, que serviu para auxiliar Grécia e Portugal é insuficiente caso Espanha e Itália também peçam ajuda.

Desmond Lachman vai mais adiante: entende que Portugal deve sair já do euro. Ele não vê como o país possa, ao mesmo tempo, pagar suas dívidas e enfrentar o programa de austeridade imposto pelo FMI. E é cético sobre o futuro europeu:

“Os dias do euro estão contados. Na minha opinião, desaparecerá dentro de seis a doze meses. Pode levar mais algum tempo, mas será fatal”.

Já a voz sempre respeitada do ex-presidente Mário Soares (87 anos), uma referência da moderna política de Portugal, desde a Revolução dos Cravos, em 1974, não é menos céptica. Ele concedeu uma longa entrevista para Clara Ferreira Alves, do Expresso, analisando a situação política e econômica dos países europeus:

“A Europa perdeu o rumo e está a ser dirigida por líderes que são medíocres e que só se interessam por dinheiro.”

Ele sempre abominou a terceira via – “ou se é de esquerda ou de direita” – critica asperamente Tony Blair e concorda com as conclusões de um estudo elaborado pelo ex-ministro espanhol Felipe González:

“A Europa está num dilema profundo. Das duas uma, ou muda de modelo econômico e consegue regulamentar a globalização e os mercados especulativos, ou caminhamos para a destruição da Europa e o fim do ouro, com as consequências que resultam dessa tragédia”.

Assim está a Europa. Com medo.

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