MANIFESTAÇÕES ESTUDANTIS

As recentes manifestações de estudantes universitários na Universidade Federal de Rondônia e na Universidade de São Paulo (USP) levam à conclusão primeira de que ocorre um distanciamento muito grande entre os protestos e a realidade estudantil, uma precariedade no idealismo e na visão de mundo, que sempre foram as referências da rebeldia dos jovens. Convém atentar para a denominação dos movimentos protagonistas para reforçar esta perplexidade. Em Rondônia a liderança é do “Movimento Estudantil Popular Revolucionário” e em São Paulo do “Movimento Negação da Negação”. Não tem vínculos com os partidos tradicionais e são tidos como radicais. O Diretório Central de Estudantes (DCE) e a União Nacional dos Estudantes, a UNE não tiveram participação expressiva nas recentes ocorrências.

Ambas mobilizações pedem essencialmente o afastamento dos Reitores, mas também reivindicam a solução de problemas estruturais, que vão desde a implementação de laboratórios e equipamentos até a segurança no campus. Embora as demandas façam sentido, ao que parece ocorre uma total desconexão com o conteúdo da Universidade e a nova dimensão do ensino. As pretensões são de natureza burocrática e não são legitimadas por uma militância capaz de formar líderes e inspirar gerações como sempre foi uma característica da Academia. Neste contexto, não falta o debate sobre o fato de que ocorre um esvaziamento no movimento estudantil porque a “denominada esquerda” está no poder, o que comprometeria a autonomia necessária para reivindicar e criticar. Os grandes temas políticos como o combate a corrupção, a crítica ao Prouni e questões ambientais e humanas que até bem pouco formavam uma espécie de consenso no ativismo dos estudantes, agora divide opiniões e prevalece o pragmatismo descontextualizado.

O que importa é que a partir dos fatos é possível situar alguns significados para os protestos estudantis da atualidade. Com efeito, são divergentes as posições entre os estudantes que defendem como prioridade absoluta o atendimento das demandas do dia a dia da Universidade e os que lutam por uma participação mais ampla vinculando os grandes temas de interesse da sociedade. De outra parte, também ocorre divergência na forma da organização estudantil, os que não reconhecem o protagonismo dos Diretórios e União de Estudantes e aqueles alinhados, inclusive vinculados a partidos políticos, como tem sido próprio da trajetória do movimento estudantil nos últimos anos. E ainda antagonismo, quanto a valorização dos espaços do ambiente Universitário. Enquanto um grupo prega a liberdade incondicional, inclusive quanto ao consumo de maconha, outro pensa que é necessário ter segurança e respeito ao direito de todos para que a vivência na Universidade, também seja atributo importante na formação.

Verdade é que no ponto e contraponto tem faltado a questão essencial que é educacional, seu conteúdo, valor estratégico e processo, que necessitam se adaptar aos novos tempos e a nova realidade do país. É urgente a retomada e a valorização do Plano Nacional da Educação que prioriza a educação como ativo decisivo para o desenvolvimento do Brasil. Ademais, é fundamental compreender que toda a construção do processo educacional, em todos os níveis, impõe a participação dos atores envolvidos. Alunos, professores, dirigentes, governo, família e sociedade. Sem um processo participativo e democrático a tendência é a prevalência do imediatismo e do determinismo na maioria das vezes imposto e despido de propósitos e idealismo. Esperamos que os fatos recentes sirvam de preocupação para todos e de reflexão aos estudantes sobre o futuro da vida acadêmica. Não será pela negação de tudo, nem tampouco pela falta de diálogo que construiremos a solução para questões de tanta relevância para o ensino. Os estudantes devem contribuir com a inquietação criadora, criticando, oferecendo soluções e participando da política, como sempre fizeram nos momentos decisivos da vida nacional.

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