Adolescente Legalista

A história politica do Rio Grande do Sul é rica em  acontecimentos nos quais se destacam a coragem e o espírito libertário do povo gaucho. Mas na maioria dessas páginas eloquentes de nossa história, os gauchos estiveram em lados opostos,defendendo ideais e bandeiras partidárias.Sem hesitação, sem medo, os gauchos sempre assumiram posições e, por isso, foram vitoriosos ou derrotados, pagando muitas vezes com a vida ou prolongado exilio o preço da sua altivez. Mas há um momento singular na história do Rio Grande do Sul em que os gauchos,acima de crenças e opções partidárias, consolidaram uma união de propósitos de significado perene:o episódio da Legalidade que neste mes estará completando 50 anos. O movimento da Legalidade , comandado pelo governador Leonel Brizola,após a renuncia do presidente Janio Quadros ,em agosto de 1961,uniu gauchos de todas as classes sociais, para garantir a posse do vice-presidente da República, João Goulart, que alguns militares golpistas queriam ver longe de Brasilia. Na época, eu era um adolescente,que já lia muito e procurava entender o que ocorria no governo de Janio .E até lembro de ter comentado com amigos que a decisão do presidente, reatando relações diplomáticas com a então União Soviética e a condecoração de Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, lhe custariam muito caro.Os dois episódios atiçaram a ira dos reacionários,principalmente os liderados pelo governador da Guanabara, Carlos Lacerda.Não deu outra. As pressões se avolumaram e Janio renunciou,porque,no fundo, ele queria mais poderes para atuar com absoluta desenvoltura,sem a marcação cerrada do Congresso.

Trincheira do Piratini

Ao tomar conhecimento de que os ministros militares não concordavam com a posse de Jango,que naquele momento estava em viagem,na Ásia,o governador Leonel Brizola adotou a atitude mais consentânea com o espírito de luta do nosso povo. Já na manhã dia dia 27 de agosto de 1961,através das rádios Gaucha, Farroupilha e Difusora,disse que não permitiria nenhum atentado à Constituição e que,se preciso fosse,resistiria à bala diante da investida dos golpistas,que não queriam a posse de Jango.Desde aquele momento o Palácio Piratini se transformou numa fortaleza,a fortaleza do Direito e da Legalidade,do respeito à Constituição,que não poderia ser rasgada para satisfazer a vontade dos generais golpistas.O governador passou a contar não somente com o apoio decisivo da Brigada Militar,mas tambem de milhares de gauchos, de todas as regiões do Estado,dispostos ao sacrifício para garantir a posse de João Goulart.Os acontecimentos posteriores são conhecidos do publico bem informado.A resistencia ao golpe foi muito maior do que seus idealizadores imaginavam.Tanto que até mesmo o poderoso   Terceiro Exército, sob o comando do general Machado Lopes,anunciou seu apoio a Legalidade,transformando  a resistencia gaucha numa epopéia.Jango voltou ao Brasil,assumiu a presidencia e,mais tarde,foi derrubado pelas mesmas forças derrotadas em 1961 pela resistencia dos gauchos liderados por Brizola.Lembro que coloquei meu nom numa relação de estudantes dispostos a lutar em defesa da posse de Jango,juntando-me ao grupo que se organizava no interior do CTG Fronteira Aberta.Não houve tempo para brigar,mas até hoje  valorizo  aquela atitude. Fiquei do melhor lado. Não esperei simplesmente que os fatos ocorressem diante dos meus olhos indiferentes.

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