Médica colombiana fala sobre Refúgio Político

Após enfrentar autoridades no país de origem, Sandra fala de suas expectativas no Brasil 

Livramento está com uma nova moradora, a médica colombiana Sandra Lorena que está aguardando a vaga e o dia para começar no programa “Mais Médicos” do Governo Federal, morando a pouco mais de um mês na cidade. Sandra entrou no país solicitando refúgio e esteve no jornal A Plateia compartilhando sua visão do asilo e expectativas para começar uma nova vida. 

Médica Sandra Lorena
A colombiana aguarda aval do Governo Federal para atuar em hospitais brasileiros no Programa Mais Médicos e deseja contribuir e partilhar seus conhecimentos em universidades e centros de pesquisas locais sobre saúde pública.

A Plateia: Bom dia Sandra. Bem vinda ao Brasil. Que impressão você tem da cidade, da região? 

Sandra Lorena: Bom dia. Obrigada pela atenção e pela oportunidade para socializar minhas experiências com os leitores de “A Plateia”. Eu gosto muito da região. Acho que é muito viva, que tem muito potencial por suas dinâmicas econômicas, sociais e culturais. Há um especial ambiente de convivência entre os países e a mistura resultante é fascinante para quem chega aqui. 

A Plateia: Sandra, conte-nos suas experiências na Colômbia e as razões que a levaram sair de seu país? 

Sandra Lorena: Eu sou médica, mas minha formação de pós-graduação foi em gerência da saúde, gestão pública e governo e há alguns anos comecei a trabalhar no âmbito de gestão pública. Estive como diretora em Bogotá de um programa da Presidência da República de Transferências condicionadas que se chama “Famílias em ação”; trabalhei como auditora de qualidade em saúde na Polícia da Colômbia, participei como consultora na OPAS e desde o ano 2010 estive vinculada como consultora da entidade Fiscalizadora Superior (é a entidade homóloga ao TCU). No ano 2012, estive como consultora de Meio Ambiente no contexto da OLACEFS e participei de pesquisas concernentes à saúde pública numa região do Caribe Colombiano, hoje afetada pelas consequências do transporte de carvão. Esse exercício ameaçou os interesses ilegítimos de atores políticos, desde logo opostos ao bem-estar coletivo e eu me tornei o alvo de perseguição por vários atores. O governo não só não conseguiu fornecer a segurança necessária para mim e minha família, mas também que houve uma série de sinais que mostraram que a entidade para a qual eu trabalhava, tinha parcerias com atores questionados no processo de investigação e que estava envolvida na perseguição. Foi uma experiência terrível que evidencia a esquizofrenia dos discursos populistas onde há ambivalência discursiva. 

A Plateia: E então, o que aconteceu? 

Sandra Lorena: Depois de percorrer às autoridades competentes e compartilhar dos meus receios, fiquei consciente de que o pesadelo não desapareceria, que muitas pessoas acreditavam que minha opinião podia representar uma ameaça para seus interesses. A perseguição não tinha trégua. Então decidi dar o conhecimento do meu caso aos Organismos Internacionais competentes em matéria de Refúgio e foi assim como ingressei num programa internacional da ONU e da Igreja Colombiana. Um comitê decidiu que Argentina seria meu país de acolhida o qual vi com bons olhos, aceitei e cheguei ao país em junho de 2012. Mas depois de um ano e sete meses declarei fracassada minha integração local e decide que o Brasil, em virtude do Programa “Mais Médicos”, seria meu país de refúgio.

A Plateia: Como vai sua integração no Brasil?

Sandra Lorena: Em outubro de 2013, eu solicitei refúgio e me cadastrei no Programa Mais Médicos em dezembro por recomendação da Defensoria Pública da União, mas estou aguardando poder entrar ao programa. A Secretaria da Saúde de Sant’Ana do Livramento mostrou sua receptividade e interesse que minha inscrição se materializara, mas estou esperando o cumprimento de todos os requisitos e documentações que preciso no Programa. Até agora, estou à espera da habilitação de seleção no município. 

A Plateia: Você se arrepende das pesquisas como consultora na Colômbia?

Sandra Lorena: Não, em absoluto. Se o tempo voltasse ao ano de 2012 quando comecei a pesquisa na Colômbia meu trabalho e minha postura seria a mesma. Eu acho que a ética não é um tema transacional de menor importância e nossa responsabilidade vai muito mais que nossa conveniência. Eu me sinto orgulhosa do que sou e acredito que é o melhor exemplo que posso dar ao meu filho.

A Plateia: Que espera do Brasil, de Sant’Ana Do Livramento, da região?

Sandra Lorena: O mais importante, poder viver em paz. Recuperar minha funcionalidade, a qualidade de vida para mim e minha família. Ser auto-suficiente e conduzir o meu potencial ao desenvolvimento do entorno onde estou. Neste caso, da Fronteira de Paz.

A Plateia: Qual sua opinião sobre o modelo da saúde no Brasil? 

Sandra Lorena: Ainda falta muito por conhecer. Embora, vejo com muito otimismo que o Brasil tem uma visão de saúde desde os determinantes sociais, o qual não é uma obviedade. Venho dum país onde a saúde é tratada como uma mercadoria e acredito que só uma visão holística, é possível projetar políticas públicas pertinentes, de acordo com as demandas sociais. Na realidade, tenho muita vontade de começar a trabalhar no Programa Mais Médicos e colaborar com minha experiência.

O QUE É MAIS MÉDICOS?

O Programa Mais Médicos faz parte de um amplo pacto de melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde, que prevê investimento em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde, além de levar mais médicos para regiões onde não existem profissionais.
Com a convocação de médicos para atuar na atenção básica de periferias de grandes cidades e municípios do interior do país, o Governo Federal garantirá mais médicos para o Brasil e mais saúde para você.

As vagas serão oferecidas prioritariamente a médicos brasileiros, interessados em atuar nas regiões onde faltam profissionais. No caso do não preenchimento de todas as vagas, o Brasil aceitará candidaturas de estrangeiros, com a intenção de resolver esse problema, que é emergencial para o país. Os municípios não podem esperar seis, sete ou oito anos para que recebam médicos para atender a população brasileira.

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