Nova Aliança também vai engarrafar fora de Livramento

Confirmação surgiu no início da tarde de ontem, no gabinete do prefeito em exercício, quando da visita do presidente da Cooperativa Nova Aliança, Alceu Dalle Molle

De costas, Flavio Novello, Homero, Henrique Bachio, com Edu Olivera, Vera Henquer, Dagberto Reis e Dalle Molle

Eram 13h36min quando se fechou a porta do gabinete do prefeito em exercício, Edu Olivera, e teve início mais uma reunião de duro impacto sobre a economia santanense. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação, Vera Henquer, apresentou o presidente da Cooperativa Nova Aliança, Alceu Dalle Molle, e disse que todos na sala estavam ali para ouvi-lo. “Quais são as notícias, as boas notícias?” – inquiriu a sindicalista.

Presidente da Cooperativa Nova Aliança, Alceu Dalle Molle, foi a público dar explicações

Dalle Molle, acompanhado do gerente da unidade da cooperativa em Livramento, Flavio Novello, fez um amplo preâmbulo sobre as estratégias da indústria, considerando sobre as unidades que estão em processo de fusão, bem como explicou os motivos sobre a readequação administrativa das cinco cooperativas egressas da Aliança e formadoras da Nova Aliança.

Logística, distância de Livramento, preços de frete, falta de mão de obra especializada, centralização de unidade de distribuição, formatação de base para novos investimentos, como na área de fruticultura e biogás, foram alguns dos pontos observados pelo líder cooperativista. Àquela altura da conversa, a expectativa se acentuava.

Edu Olivera, prefeito em exercício; os sindicalistas Vera Henquer e Homero; o vereador Dagberto Reis; o jornalista Henrique Bachio; e integrantes da assessoria da prefeitura, bem como de mídia, ouviram as explanações de Dallle Molle e Novello.

Dalle Molle também disse considerar que houve preocupação em reduzir os impactos com a retirada do engarrafamento, afirmando que sucos – projeto futuro da empresa – bem como vinhos especiais, tops e ícones, continuarão sendo engarrafados em Livramento. Ou seja, é possível depreender das palavras dele que aqueles produtos que necessitem, por questão de valor agregado, engarrafamento na origem, continuarão passando pelo processo aqui, como o vinho top Cerro da Cruz.

O engarrafamento da Nova Aliança será feito em Flores da Cunha. “Temos vários projetos que envolvem a fruticultura, com suco e doces, geleias e frutas cristalizadas” – justificou Dalle Molle, também citando que entre os projetos a serem explorados está a produção de biogás e adubo.

“O nosso projeto para Livramento é grande, e não é o fechamento do engarrafamento – previsto desde 2009 – que vai estremecer a nossa relação com a cidade, pois as uvas viníferas continuarão a ser produzidas aqui” – afirmou, salientando que também está na pauta a produção de uva orgânica, outro investimento que a Nova Aliança deverá realizar. Dalle Molle afirmou que os trabalhadores do engarrafamento serão redirecionados na empresa, mas disse ainda não ter os números a respeito de prováveis desligamento. Inclusive, confirmou, de início, que iriam acontecer, chegando a cogitar números, entre 2 e 6 dos 14 funcionários que atuam hoje na empresa. O enfoque da Nova Aliança também está no enoturismo, segundo ressaltou o presidente da cooperativa, acrescentando que o foco para fortalecer a cooperativa é associar produtores e, para tanto, estará mantendo contato com o secretário da Agricultura do município, Carlos Fernandes, hoje pela manhã.

No caso do retorno de ICMS para o município, há possibilidade dos novos investimentos da cooperativa trazerem retorno, pois o relatório de 2012 de retorno desse tributo para Livramento registrava em torno de R$ 900 mil negativos, ou seja, significando que a empresa comercializou muito menos do que comprou ou investiu.

Presidente da Câmara busca agendar encontro com o governador

Vereador Gilbert Gisler, o Xepa, presidente da Câmara: tentando audiência com o governador Tarso Genro

A próxima terça-feira, 21, poderá ser a data de um encontro entre uma comitiva de Sant’Ana do Livramento e o governador Tarso Genro. O tema central: a questão da saída dos engarrafamentos da Almadén/Miolo e Nova Aliança do município, sendo transferidos, respectivamente, para Bento Gonçalves e Flores da Cunha. O pleito foi encaminhado ontem, pelo presidente da Câmara de Vereadores, Gilbert Gisler, o Xepa (PDT), que fez contato com o santanense Jorge Grecellé, na Assembleia Legislativa, bem como com o deputado estadual Ciro Simoni.

A finalidade, de acordo com Xepa, foi buscar a intervenção do governador na questão e, ainda, traçar encaminhamento no sentido de que seja possível construir alguma alternativa para o setor vitivinícola. “Deveremos ter a confirmação dessa agenda no Palácio Piratini nas próximas horas, pois já contatamos com o Jorge Grecellé e o deputado Ciro Simoni, a fim de que os dois mobilizassem esforços em Porto Alegre” – disse o presidente do Legislativo.

Lamentando que também a Nova Aliança adote essa posição de não mais envasar em Livramento, Xepa deixou claro que a Câmara de Vereadores está mobilizada no sentido de buscar a garantia dos empregos, a continuidade do ICMS, bem como um comprometimento de parte da empresa – e de outras organizações comerciais industriais do gênero que estejam em Livramento – para que não se propaguem os prejuízos ao município e aos santanenses.

“Todos sabem que esses investimentos anunciados pelas empresas dependem de condições futuras, ou seja, são ações que se concretizarão em 3, 5, 10 ou 15 anos, não devolvendo, de imediato, o prejuízo para o município, especialmente no que tange aos empregos que estão sendo ceifados” – pondera o legislador.

Xepa também considera que todos os legisladores – inclusive aqueles que estão em viagem em função do período de recesso parlamentar e ficaram sabendo do assunto – estão abraçando a causa, a fim de que todos os esforços sejam feitos, esgotadas as possibilidades para que se reverta a condição.

Mobilização terá início às 7h, em frente à vinícola Almadén

Líderes setoriais e representantes dos mais diversos segmentos combinaram se encontrar a partir das 6h30 de hoje, na Vila de Palomas

Trabalhadores foram orientados a permanecer na frente da indústria hoje

Ontem pela manhã, na Sala Cultural, uma segunda reunião do chamado comitê especial de enfrentamento à crise nas vinícolas definiu algumas estratégias pontuais a serem adotadas. A primeira delas é respaldar a manifestação que trabalhadores, centrais sindicais e munícipes, bem como vereadores e representantes do Executivo, estarão realizando nesta quarta-feira, a partir das 6h30, em frente à sede da Almadén. Os funcionários da indústria vinícola foram comunicados de que devem se concentrar na frente da empresa e não ingressarem no recinto.

Também circulou, ontem, uma informação de que a Almadén tomará contramedidas àqueles funcionários que não realizarem a marcação de ponto no horário, tendo havido orientação da direção da indústria de que os mesmos cheguem e adentrem às instalações, do contrário ocorrerão sanções administrativas. A orientação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação, bem como da Federação dos Sindicatos da Alimentação, é justamente o contrário: que ao chegar, os funcionários permaneçam na frente da empresa.

Prefeito em exercício, Edu Olivera ouve representantes setoriais da comunidade

A segunda estratégia definida ontem foi a entrega de uma Carta de Sant’Ana à diretoria da Miolo, mesmo que seja na sede da empresa em Bento Gonçalves. Será realizado o agendamento de uma reunião com o governador Tarso Genro, bem como está sendo estruturada uma comitiva, com a finalidade de ir até Brasília para um contato com a presidenta Dilma Rousseff.

Um segundo documento, já com todos os dados e informações a respeito dos prejuízos efetivos que estão sendo originados a partir da decisão administrativa de mudar o envase para Bento Gonçalves, estará sendo confeccionado, registrando, mais do que a inconformidade dos santanenses, a preocupação com as perspectivas futuras do segmento vitivinícola. Tais documentos têm como finalidade específica provocar uma reação das instâncias de governo estadual e federal, a fim de que se olhe para a região da fronteira e passe a existir algum mecanismo de compensação para as empresas, especialmente unidades industriais que se instalassem e atuassem na cidade.

A reunião de ontem foi uma sequência da mobilização iniciada no dia anterior, em que participaram vários representantes setoriais. O foco do encontro foi buscar uma forma de reverter a nova condição que será adotada a partir do fim deste mês.

O prefeito em exercício Edu Olivera deixou claro que são essenciais pontos como os brios e orgulho dos santanenses em relação à marca Almadén. “Não houve um anúncio oficial, formalizando de forma pública a nova condição. Além disso, há as vagas de trabalho, postos que serão descontinuados. Em torno de 30 pessoas, ou seja, aproximadamente 120 cidadãos – considerando-se as famílias – que terão ceifadas suas condições de subsistência. Isso sem falar nos mais de R$ 7 milhões e 600 mil de retorno de ICMS que Livramento vai deixar de arrecadar com o fim do engarrafamento do vinho na cidade” – disse Edu Olivera.

A presidente do Sindicato da Alimentação, Vera Henquer, convidou a todos os cidadãos que possam e desejem, para que se associem à mobilização pacífica e ordeira que será realizada em frente à Almadén, hoje. “Nossa preocupação é com os trabalhadores e com suas famílias, pois já temos informações de que essas realocações, na prática, não funcionam, pois imagine sair daqui, onde a pessoa tem casa e família, ganha um salário que dá para fazer frente às despesas e ir para Bento Gonçalves, com o mesmo salário, pagar aluguel, transporte, alimentação, enfim” – disse a sindicalista, salientando que essa é uma posição ilógica da empresa.

Ônibus

O prefeito em exercício confirmou que estará sendo disponibilizado, gratuitamente, ônibus a partir das 6h30 de hoje, para quem desejar se dirigir até a Almadén e participar da mobilização. De acordo com ele, todo e qualquer munícipe que deseje participar do ato público será bem-vindo. O mandatário chegou a cogitar na colocação de dois veículos, porém, em função do horário, um será colocado à disposição das pessoas.

Visita

Edu Olivera fez contato, no início da tarde de ontem, com o empresário Eurico Benedetti, cuja vinda a Sant’Ana do Livramento estava prevista para esta quarta-feira. Na oportunidade, o empresário cancelou a presença e informou que somente na quinta-feira será possível que ele venha ao município. Benedetti, na conversa com Edu Olivera, chegou a cogitar que há um dimensionamento maior do que realmente existe, em sua opinião, nos fatos que estão sendo registrados, reafirmando a vontade em realizar investimentos na área de enoturismo. O mandatário disse que Benedetti estaria sendo aguardado na quinta-feira, inclusive para oferecer mais informações sobre a decisão administrativa que afetou toda uma comunidade.

Afinal, as explicações de Adriano Miolo

Após vários dias, diretor superintendente finalmente busca esclarecer a mudança do engarrafamento para Bento Gonçalves

Adriano Miolo, diretor superintendente da vinícola, deu várias explicações

Agora é publicamente oficial. O diretor superintendente da Miolo, Adriano Miolo, confirmou, durante o programa Conversa de Fim de Tarde, da rádio RCC FM, que no fim de janeiro o engarrafamento será mesmo centralizado em Bento Gonçalves. Depois do silêncio público, o empresário decidiu dar explicações sobre a nova condição que afetará diretamente a indústria em Livramento.

Adriano Miolo confirmou a mudança e disse que ela faz parte de uma série de processos e movimentos que vêm sendo feitos nos últimos dois anos. Disse que a Almadén foi adquirida pela Miolo no fim de 2009, quando todas eram empresas independentes, a Almadén, a Seival, a Ouro Verde e a Miolo. Cada empresa tinha sócios comuns, no caso a família Miolo, bem como outros.

De acordo com Adriano Miolo, em 2011 foi realizada uma fusão, que durou um ano, para unificar todas as empresas no mesmo grupo. As dificuldades de mercado, seca, substituição tributária que vêm afetando a operação de vinhos no Brasil, e vários outros fatores, são apontados pelo empresário para justificar essa nova realidade.

Adriano Miolo explicou todo um contexto para responder que, sim, está domada a decisão e o engarrafamento vai para Bento Gonçalves. A síntese da entrevista de Miolo ao programa Conversa de Fim de Tarde, ontem, está a seguir.

A Plateia – A decisão está tomada ou é reversível?
Adriano Miolo - São 4 vinícolas e 1200 hectares, e atuamos em todo o Brasil. Tivemos regionais que unificamos, transformando em 3. A decisão está tomada, vamos levar o engarrafamento para Bento Gonçalves, por uma questão de custos, de logística. Dentro do nosso planejamento, precisamos satisfazer nossos clientes.

A Plateia – Houve uma ideia do impacto sobre a cidade?
Adriano Miolo - Menos impacto é justamente a unificação das linhas de engarrafamento, e então unificamos. Investimos em uma central em Bento Gonçalves e o vinho produzido aqui será engarrafado lá.

A Plateia – Qual, na composição de cálculo do produto, é o grande gargalo?
Adriano Miolo - O grande problema é realmente nosso frete, que é enorme, despesa logística fora dos padrões habituais em um produto com baixo valor agregado. O custo de frete registra, também, mudanças nas legislações de transporte. Houve aumento de frete na ordem de quase 30%. A gente fez muito cálculo e concluiu que o melhor seria unificar essas linhas de engarrafamento. Então, a decisão é nesse sentido. Não muda nada em nível de empresa. Continua sendo a vinícola Almadén, que continua vendendo seus vinhos no mercado. Não há mudança nesse sentido. Produzimos uvas e vinhos e vendendo para o mercado. Simplesmente uma operação foi transferida para Bento Gonçalves, por problema logístico que é o alto custo de fretes de levar as mercadorias para Sant’Ana do Livramento e depois retornar com o vinho engarrafado para distribuir. Normalmente, todo o cluster do vinho está na Serra, então os fornecedores entregam suas mercadorias aqui (na Serra) sem custos, o que é de praxe. Como temos um investimento aí em Sant’Ana do Livramento, cerca de 600 Km, temos que arcar com os custos de fretes, mercadorias e depois voltar com o produto engarrafado. A ideia é causar menos impacto possível, sem mudar o projeto. Vamos seguir investindo no vinhedo, na vinícola e no enoturismo.

A Plateia – Quantos postos de trabalho deixam de ser ocupados?
Adriano Miolo - A decisão é colocar uma linha de engarramento para atender aos 3 projetos: Bento Gonçalves, Candiota e Livramento. É unicamente transferir o envase para Bento Gonçalves, mas com o menor impacto possível. Estamos falando da Almadén, onde, no engarrafamento estão envolvidas 17 pessoas que trabalham na linha. Estamos conversando com todos os funcionários envolvidos no engarrafamento, e em torno de 4 funcionários serão levados para Bento Gonçalves, pois assim concordaram. Vamos remanejar os demais na cantina, no vinhedo e na parte de enoturismo, que pretendemos fomentar, no trem que já está sendo discutido e que deverá ter retorno.

A Plateia – A Almadén, em 2012, gerou um retorno de ICMS para Livramento na ordem de R$ 7.600.000,00, aproximadamente, ou seja, perto de R$ 8 milhões. Esse é um impacto bem significativo e complica a vida do município, sem mencionar o PIB local que reduz. Isso não será compensado. E os empregos também não serão colocados. Não são impactos muito significativos, bem grandes em sua ótica?
Adriano Miolo - Vou começar pelos trabalhadores, a parte mais sensível da cadeia, cuidado que temos tomado para que tenha o mínimo impacto possível, quando se refere a postos de trabalho, principalmente na Almadén, que a gente sabe terem muitos anos de casa. Para nós, foi o primeiro critério a ser considerado para que houvesse o menor impacto possível.

São 17, não são 30, pode ser confirmado com o Caliari e a Luciana no RH. São 17 envolvidos no engarrafamento, hoje. Já tem uma conversa com 4 ou 5 operadores dessa linha, no sentido de transferi-los para Bento, onde serão colocados na linha de engarrafamento de lá, porque vai ampliar muito o processo em Bento Gonçalves. A outra parte será remanejada em 3 áreas, na vinícola/fábrica, no vinhedo ou no enoturismo.

A Plateia – Não vai ocorrer demissão, então?
Adriano Miolo - Então, como eu dizia, de 17 vamos tratar que haja o menor impacto possível. Até o fim de janeiro, esse pessoal todo vai estar envolvido com a colheita. Estamos contratando 150 funcionários para colher, então, de qualquer maneira, tem trabalho, e como dizia nesse processo todo nesses proximos meses vamos tratar de realocá-los, como já disse.
A determinação da empresa é que haja o mínimo impacto possível e que se houver, que sejam contratados menos funcionários provisórios, para beneficiar os funcionários que já estão. As equipes da Almadén, com o Caliari, Fabricio e Luciana, vão fazer todo o trabalho para que sejam remanejados na empresa.

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