Dom Pedrito sedia workshop sobre a rastreabilidade

Sindicato Rural de Dom Pedrito sediou workshop sobre rastreabilidade

O município de Dom Pedrito sediou, na semana passada, um workshop com produtores rurais da região a respeito da identificação individual de bovinos e rastreabilidade mostrados pelo Uruguai e Santa Catarina. O evento foi realizado no Sindicato Rural de Dom Pedrito, presidido pelo agropecuarista José Weber, um dos parceiros do evento promovido pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa).

Uma representação de produtores, reunida pela Associação e Sindicato Rural de Livramento, participou do evento.

Marianela Gonzales, coordenadora do Sistema de Informação Agropecuária

Embora atrasado em relação ao país e ao estado vizinho, o Rio Grande do Sul, segundo ele, dá o primeiro passo na melhoria da gestão da propriedade, na qualidade do produto ofertado no mercado e no aumento da exportação. “O cronograma (do projeto de identificação) apresentado pela Secretaria da Agricultura é factível, totalmente viável. Quem ganha somos nós, produtores, o Estado e a população, que vai consumir carne de qualidade e certificada”, resumiu Weber, que há anos trabalha com rastreabilidade em lote. Ainda há críticas pontuais sobre o programa. Weber, no entanto, faz questão de explicá-las. “A resistência de alguns produtores está no impacto que toda grande mudança gera. Daqui a pouco, eles se acostumam com a ideia e aderem”.

A população de bovídeos gaúcha é praticamente a mesma de todo o Uruguai, com 13 milhões de cabeças. O abigeato, um dos problemas do campo gaúcho, foi praticamente reduzido à metade por lá.

Uma das principais dúvidas levantadas pelos produtores do RS advém da forma do custeio do programa e da obrigatoriedade de adesão. No momento em que se tornar lei – está na Assembleia Legislativa para ser apreciada pelos deputados – ele terão, aos poucos, de se adequar. A proposta apresentada pela Secretaria da Agricultura prevê a concessão dos brincos e chips gratuitamente e a obrigatoriedade de adesão. 

Santa Catarina 

Debate em Dom Pedrito deverá registrar desdobramentos no Estado

O estado catarinense implantou o sistema em 2008. Um ano antes, em 2007, obteve de organismo internacional status de zona livre de aftosa. O rebanho é estimado em quatro milhões de cabeças de gado, identificadas em cinco meses de intenso trabalho. O governo distribui os brincos gratuitamente aos produtores, em sua grande maioria de pequenos e médios, que, por ano, produzem 116 mil toneladas de carne. O mercado catarinense consome 185 mil toneladas, e para suprir a demanda, precisam comprar mais 65 mil toneladas. “Estamos nos preparando e conversando com a cadeia produtiva para podermos produzir mais. Não só para o nosso mercado, como para, num futuro próximo, começar a exportar”, diz Leonora Machado, veterinária e gerente da Defesa Sanitária de SC.

O sistema catarinense é vinculado ao Sisbov, do Ministério da Agricultura. Assim como o Rio Grande do Sul planeja até o fim do ano, eles trabalham com processo digital de retirada de Guia de Trânsito Animal (GTA). “O produtor, em casa, pode acessar seu cadastro, fazer o controle de seus animais e tirar a guia”, explicou. Segundo ela, garantem-se o controle sanitário e a valorização do rebanho. Mesmo que a maior produção ainda seja de suínos, o estado está se organizando para ampliar a de bovinos. O Uruguai exporta para mais de 80 lugares no mundo, e o status sanitário do país vizinho ainda é “livre de aftosa com vacinação”. 

Uruguai 

No Uruguai, o controle estende-se aos frigoríficos. A cadeia é organizada como um todo. Encarado com política de estado, o sistema recebe atenção especial do governo. Marianela González, do Ministério de Ganaderia, Agricultura e Pesca do Uruguai, é otimista quanto à iniciativa gaúcha, a partir da experiência de seu país. A parceria público-privada é um dos pontos que dão sustentação à medida uruguaia.

“O funcionamento, 24 horas por dia, durante os 365 dias do ano, permite um maior controle, eficiência e qualidade do sistema”, avalia. Um exemplo são os números: a exportação chega a 75% do produzido, representando 25% da economia. “Há 40 anos, começamos um processo gradual de organização do rebanho. O nosso histórico nos possibilitou a, hoje, termos um status reconhecido no mundo todo. Os mercados externos são muito exigentes, principalmente o Japão, com quem estamos em tratativas para exportação”, afirma. Entre 2012 e 2013, US$ 1,6 bilhão em carne foi vendido para fora do país. Os animais, tal qual em Santa Catarina, recebem um brinco e um bóton eletrônico. Cada um contém informações completas do animal, que podem se acessadas pelo produtor via web. Dois mil operadores, entre públicos e privados, capacitam os produtores para aplicar os brincos. Por ano, registram-se 400 mil transações eletrônicas.

Dos 39 frigoríficos, 20 deles são aptos a exportar. “Nosso objetivo é agregar valor. E estamos conseguindo”, afirmou Gonzáles. “O uso da tecnologia de identificação nos permitiu ter um produto natural, saúde animal e confiança dos mercados”, acrescentou. Desde 2006, tornou-se obrigatória a identificação dos terneiros até seis meses e antes da primeira comercialização. Em 2001, também passou a ser lei o registro de todos os adultos nascidos até esse ano. Hoje, 50 mil produtores identificam e registram pelo menos três milhões de terneiros por ano. No formulário eletrônico, constam sexo, raça, data de nascimento, proprietário do animal e lugar físico de nascimento. O consumidor, no fim, tem acesso a todo histórico do animal, em uma base de dados que conta, atualmente, com universo de 80 milhões de informações. Antes de fazer qualquer transação, o produtor deve solicitar permissão prévia. A polícia sanitária tem acesso às permissões, fornecendo-lhes controle total sobre o que é movimentado. O sistema é tão completo que permite saber, por meio de gráfico atualizado, quantos animais entraram por dia nos frigoríficos e em cada caminhão em particular. Em mapa, o governo, também em tempo real, sabe a quantidade exata de animais em processo de engorda.

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