Dois contos chineses
O sábio rei Weng pediu para visitar a prisão de seu palácio. E começou a ouvir as queixas dos presos.
- Sou inocente – disse um deles, acusado de homicídio. – Vim para cá porque quis assustar minha mulher, e sem querer a matei.
- Me acusaram de suborno – disse outro. – Mas tudo o que fiz foi aceitar um presente que me ofereceram.
Todos os presos clamaram inocência ao rei Weng. Até que um deles, um rapaz de pouco mais de vinte anos, disse:
- Sou culpado. Feri meu irmão numa briga e mereço o castigo. Este lugar me faz refletir sobre o mal que causei.
- Expulsem este criminoso da prisão imediatamente! – gritou o rei Weng.
- Com tantos inocentes aqui, ele terminará por corrompê-los!
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Zhizang procurou Confúcio por toda a China. O país vivia um momento de grande convulsão social, e ele temia um grave derramamento de sangue.
Encontrou o mestre junto a uma figueira, meditando.
- Mestre, precisamos urgentemente de sua presença no governo – disse Zhizang. – Estamos à beira do caos.
Confúcio continuou meditando.
- Mestre, ensinaste que não podemos nos omitir – continuou Zhizang. – Disseste que somos responsáveis pelo mundo.
- Estou rezando pelo país. – respondeu Confúcio. – Depois irei ajudar um homem na esquina. Fazendo o que está ao nosso alcance, beneficiamos a todos. Tentando apenas ter ideias para salvar o mundo, não ajudamos nem a nós mesmos. Existem mil maneiras de se fazer política: não é preciso ser parte do governo.
O fato
Eis a origem do ditado “macaco velho não mete a mão em cumbuca”:
Na Índia, os caçadores abrem um pequeno buraco num coco, colocam uma banana dentro e enterram-no. O macaco se aproxima, cava, pega a banana, mas não consegue tirá-la – porque sua mão fechada não passa pela abertura. Em vez de largar a fruta, o macaco luta contra o impossível, até ser agarrado.
O mesmo se passa em nossas vidas. A necessidade de ter determinada coisa – às vezes algo pequeno e inútil – faz com que terminemos prisioneiros dela.
A reflexão
Do livro “A Sabedoria dos mestres judeus”:
O rabino Yannai costumava dizer:
Não há nenhuma maneira de explicarmos a prosperidade dos malvados ou o sofrimento dos justos. Tudo o que nos é pedido, entretanto, é que procuremos – nós mesmos – a justiça.
A realidade é mais complexa do que gostaríamos que fosse.
Se ficarmos insistindo para que tudo tenha um sentido, terminaremos desesperados.
A realidade não pode ser embrulhada com papéis coloridos, e atada com a fita dourada do moralismo.
A realidade é maior do que nossa visão do Bem e do Mal, do que está certo ou errado.
A realidade é o que é, e não o que imaginamos que deveria ser.
Onde pudermos lutar pela justiça, lutemos.
Quando formos confundidos por uma Verdade além de nossa compreensão, ainda assim, procuremos fazer o melhor.