Polícias brasileira e uruguaia investigam triplo homicídio na Fronteira da Paz

Três taxistas foram encontrados com sinais de execução, no início de quinta-feira

Delegado regional Eduardo Sant’Anna Finn, é responsável pelas investigações

As comunidades santanense e riverense acordaram temerosas na última quinta-feira (28), diante das notícias sobre o triplo homicídio de taxistas que trabalhavam em Sant’Ana do Livramento. Os corpos, com sinais de execução, foram localizados em diferentes localidades, tanto no lado brasileiro, quanto no lado uruguaio.

A Polícia Civil ainda trabalhava de forma intensa no fim da noite de quinta-feira, mas sem qualquer pista concreta que pudesse explicar a barbárie que provocou a suspensão de quase todo o serviço de táxi na cidade, por pelo menos 24h.

O delegado regional Eduardo Sant’Anna Finn, titular da 12ª e 1ª Delegacias de Polícia, informou durante entrevista, ainda na tarde de quinta-feira (28), que a linha inicial investigativa era de crimes de latrocínio. “A investigação ainda é bastante preliminar, mas a única coisa que ligava as três vítimas era mesmo a questão profissional”, destacou Finn. Questionado se o crime poderia ter sido praticado por uma única pessoa, o delegado respondeu que acredita que esta possibilidade seja pouco provável. “Pelo número de vítimas, pela forma como ocorreram as mortes, e as localidades em que foram localizados os veículos e corpos, possivelmente os crimes tenham sido praticados por duas ou mais pessoas”, concluiu.

Apesar de ter sido descartada pela Polícia local a hipótese de haver mais vítimas, ainda no fim da noite de quinta-feira algumas emissoras de rádio, principalmente de Rivera, cogitavam o desparecimento de uma quarta pessoa, a qual também faria parte do “quebra-cabeça macabro”. 

Vítimas

Assim amanheceu a quinta-feira, as vítimas começaram a ser reveladas, uma a uma, sendo que o primeiro chamado que a Brigada Militar recebeu, por volta das 7h, foi para o Lago do Batuva. Na rua Viterbo Gazapina, em frente ao Residencial Veneza, estava Helio Beltrão do Espírito Santo Pinto, que apresentava um tiro na cabeça. Helio era ex-policial militar, tinha 45 anos, e estava a cinco dias de deixar a cidade, pois sua família já havia se mudado para Caxias do Sul.

Às 7h30, mais um chamado voltava as atenções policiais para a rua Daniel Pereira, no bairro Armour, onde estava Márcio Fabiano Magalhães de Oliveira, que também apresentava um ferimento de bala na cabeça. Márcio era uruguaio e residia com sua família na Nova Livramento.

A terceira vítima foi localizada algumas horas mais tarde, mas em território uruguaio. Enio Rolim Lencina, conhecido pela alcunha de Tito, foi encontrado no bairro Bissio e apresentava dois tiros na cabeça. Tito tinha 56 anos, era brasileiro, mas morava em Rivera e trabalhava como autônomo na rodoviária de Livramento.

 Enio Rolim Lecina — brasileiro, morava em Rivera, mas trabalhava como autônomo na rodoviária de Livramento

Helio Beltrão do Espírito Santo Pinto — brasileiro, 46 anos, morava em Livramento

Márcio Fabiano Magalhães Oliveira — uruguaio, tinha 33 anos e residia em Sant’Ana do Livramento

Veículos foram abandonados em diferentes pontos da Fronteira

Táxi de prefixo 102 foi localizado na Paul Harris; o de prefixo 075, em Rivera, e o de prefixo 153, no Jardim do Verde

O táxi 102 estava na rua Paul Harris, junto à Linha Divisória

Assim que os corpos das três vítimas foram encontrados, iniciou a localização dos três veículos táxis, sendo que o primeiro a ser identificado foi o VW/Gol, de cor branca, com o prefixo 102, que era conduzido por Márcio Fabiano Magalhães de Oliveira. 

Paul Harris

O táxi de prefixo 075 estava abandonado em Rivera, na rua Ceballo

O táxi estava na rua Paul Harris, junto à Linha Divisória. O IGP – Instituto Geral de Perícia foi acionado e, durante levantamento preliminar, foram encontrados vestígios de sangue no veículo. 

Rivera

Horas mais tarde, as equipes policiais localizaram também o veículo Fiat/Uno Way, cinza, de prefixo 075, o qual estava abandonado em Rivera, na rua Ceballo, quase esquina com a Fructuoso Rivera – centro da cidade. O veículo em questão era conduzido por Helio Beltrão do Espírito Santo Pinto. 

Armour

O terceiro veículo, Fiat/Elba, verde, prefixo 153, foi encontrado na rua Euclides do Espírito Santo, nas proximidades do Viaduto do Armour. Este último carro era conduzido por Enio Rolim Lencina, conhecido pela alcunha de Tito.

O Fiat/Elba verde, prefixo 153 foi encontrado na rua Euclides do Espírito Santo, no Viaduto do Armour

Um dos detalhe chamou a atenção das investigações: do táxi 102, foram retirados alguns objetos, porém dos táxis 75 e 153 nada foi levado. Também a jaqueta de uma das vítimas foi encontrada dentro de outro táxi.

Apesar da perícia ter encontrado vestígios de sangue em um dos veículos (táxi de prefixo 102), a Polícia preferiu não se posicionar a respeito das pistas iniciais, e irá aguardar o resultado da perícia.

A investigação também não confirmou se a arma utilizada nos três assissinatos seria do mesmo calibre e também aguardará o resultado do levantamento pericial do exame de necropsia. Mesmo assim, os policiais levantaram a hipótese de que o calibre utilizado no crime tenha sido .38 ou 9mm.

Informações complementares também nas páginas em Espanhol, desta edição.

Coincidência 5 anos depois

Há cinco anos (2008), exatamente no dia 28 de março, a fronteira de Livramento com Rivera recebia a notícia de um latrocínio, tendo como vítima um taxista. O local do crime havia sido o Cerro do Caqueiro. Por volta das 7h, a Brigada Militar foi acionada para socorrer um homem que estava caído ao solo, próximo ao número 100 da rua Dr. Clovis Crisot, na vila Atenas. Chegando lá, os militares encontraram morto o taxista Juan Francisco Sanes Silveira, 57 anos, que trabalhava em Rivera. O mesmo apresentava um corte no pescoço e estava caído de bruços sobre a calçada.