Wainer e as ações invisíveis

Despedindo-se da prefeitura em 31 de dezembro, o professor Wainer Machado afirma que retornará à sala de aula e faz avaliação positiva de seus 8 anos como mandatário no Executivo. Analisa as reações da população aos últimos meses do mandato, reforçando que todas as ações, em capacitação, ajustes administrativos, pagamento de dívidas, não são visíveis na prática, o que naturalmente gera a incompreensão da comunidade, pois há falta de dinheiro para investir pesado no que aparece: iluminação, limpeza de vias públicas, recapeamentos, pavimentações, obras, entre outras necessidades.

A Plateia – Como avalia o período como prefeito municipal?
Wainer – Faço uma avaliação positiva do governo como um todo nos quatro anos. Claro que gostaria de ter feito muito mais, mas os espaços de tempo na esfera pública são muito diferentes do que se conhece no cotidiano. Recursos que conseguimos em 2009, por exemplo, estão sendo disponibilizados somente agora pela burocracia do sistema. Essa é a realidade e as pessoas querem a resposta imediata para seu problema, então, não entendem essa mecânica que é real, e faz parte de cada processo.

A Plateia- O Executivo Municipal não tinha como fazer frente, resolvendo, às reclamações da população sobre iluminação pública, asfaltamento ou tapa-buracos e limpeza da cidade?
Wainer – Dentro do possível, sim, e o fez. O governo foi positivo, em que pese a crítica e a cobrança dos cidadãos, legítimas – eu também cobraria. Essas exigências se aprofundaram de 2011 para cá, agravadas pela crise nos segmentos importantes, impactando diretamente no cotidiano das pessoas. Entendo esse sentimento da comunidade, pois a crise veio se agravando, com a falta de recursos. Isso gerou o desgaste do governo, pois atingiria qualquer administração, detonando-a. Hoje, o sentimento das pessoas é esse. Compreendo, mas elas precisam saber que a Petrobras deixou de vender material para pavimentação asfáltica, e tivemos que licitar. Fizemos duas licitações. Aí vem o tempo de cumprir os ritos, além de obter os recursos. E não se consegue. Tínhamos que realizar todo o processo, com os prazos respectivos e manter o padrão. Fica difícil. O cidadão não quer saber como, nem quanto custa, quer o serviço. No setor público, não podemos simplesmente pegar o dinheiro e comprar deste ou daquele fornecedor. Existe toda uma sequência de procedimentos a serem cumpridos, desde a tomada de preço, lançamento de edital. Acabamos tendo o ônus e até agora pagamos por ele.

A Plateia – E as questões da limpeza e iluminação?
Wainer – Não podemos deixar de considerar que há crescimento na cidade. Esse processo de crescimento gera mais consumo, seja de energia e resulta também no incremento do lixo. O cidadão produz um volume maior de lixo e muito dele vem para a rua. Coleta regular existe, mas aí entra a capacidade do município em termos de recursos humanos para limpeza, varrição e todos os demais serviços, que não cresceu. Não cresceu porque os recursos são limitados. Recursos humanos limitados, recursos financeiros limitados, recursos mecânicos limitados. Mas a comunidade exige a limpeza, e com razão. Não tivemos recursos para fazer os investimentos, pois ao longo de 7 anos pagamos mais de R$ 70 milhões em dívidas que não contraímos. No que se refere a iluminação pública, tínhamos recursos suficientes para contratar uma única equipe terceirizada, com equipamento e profissionais para promover a recuperação de mais de 9.000 pontos de luz, cada um deles com um problema diferente, exigindo uma ação diferente. Além dessa questão, tem o material que também precisa ser comprado, mediante licitação. Por isso, entendo a cobrança, que vem da constatação da realidade e gera o sentimento de hoje, perceptível na população.

A Plateia – Ao longo do governo, a questão financeira sempre foi a principal alegação como restritiva para as ações. Quais as dívidas existentes, efetivamente?
Wainer – A Contadoria Geral da Secretaria da Fazenda me entregou há poucos dias todos os relatórios. No demonstrativo de pagamentos das dívidas municipais, em 7 anos, ou seja, a partir de 2005, pagamos exatos R$ 78.872.211,65. Posso citar um a um. Da dívida contratual do INSS, originada em 2001, até 2004, foram pagos R$ 662.445,60. No nosso governo, de 2005 a 2012, pagamos R$ 4.992.838,11. Sisprem – originada em 1997, não ocorreram pagamentos até 2004. Nós pagamos em 7 anos R$ 10.783.560,26. Da dívida contratual do ARO, do governo federal, originada em 1994, nós pagamos R$ 8.931.374,06 em cinco anos, ao passo que os pagamentos até 2004 atingiram R$ 1.673.673,55. E vamos além. Da dívida contratual com a AES Sul, originada em 1999, é preciso dizer que até 2004 não havia sido feito pagamento. Nós pagamos de 2005 para cá R$ 4.501.319,07. Do precatório judicial do Batuva, originado em 1991, até 2004, os pagamentos atingiram a cifra de R$ 845.273,49. Nós encerramos em 15 de junho de 2011 essa dívida, depois de pagarmos a quantia de R$ 8.430.210,24 e o Batuva passou a ser, de fato e de direito, do município, da comunidade. Para que se tenha uma ideia, do Núcleo Simon Bolívar, também precatório judicial, originado em 1991, os pagamentos até 2004, atingiram R$ 470.001,96. Nós pagamos, de 2005 até 2012, 2.358.812,25. Vamos adiante, pois a comunidade precisa ter conhecimento pleno do que foi pago e isso está transparente, à disposição. Do FundoPimes, dívida contratual iniciada em 1994, não ocorreram pagamentos até 2004. Nós utilizamos todos os instrumentos jurídicos, mas perdemos na última instância e, não havendo como recorrer, tivemos que pagar. E o pior, o pagamento foi vinculado ao ICMS que é enviado pelo Estado ao município. Ou seja, é dinheiro que fica retido, já descontado na origem. Eu disse constantemente que os sequestros toda terça-feira inviabilizariam a administração. E não deu outra. Fui a Porto Alegre, pedi ao governador, ao secretário de Fazenda do Estado para que o município tivesse um alívio. Não ocorreu. Continuamos pagando e isso vai continuar ocorrendo em 2013. Para que a população entenda, só do FundoPimes, de 2005 para cá, a título de dívida contratual pagamos R$ 6.064.949,88. De precatório judicial, referente a 1991 a 2004, lembrando que também não ocorreram pagamentos até 2004, pagamos R$ 4.167.880,98. Das sentenças judiciais pertinentes ao Pimes, originadas no ano de 2001, até 2004 foram pagos R$ 1.074,839,22. No período entre 2005 a 2012, pagamos R$ 2.210.452,07. E há mais em relação ao Sisprem. Do Fundo de Previdência do Sisprem, que precisamos depositar, originado no ano de 1997, verificados até 2004, o pagamento de R$ 675.154,58. Nós aportamos, de 2005 a 2012 para esse fundo R$ 26.430.814,73.

A Plateia – Esse demonstrativo totaliza em quanto?
Wainer – É preciso que a comunidade veja de forma comparativa. Sem entrar no mérito de cada gestão que nos antecedeu, quem era o prefeito, quanto podia dispor, enfim. Financeiramente, em dinheiro, em termos de dívidas municipais, até 2004 foram feitos, somando todas as dívidas que mencionei anteriormente, R$ 5.401.388,40 em pagamentos dessas dívidas. Nós, de 2005 a 2012, pagamos R$ 78.872.211,65. É o que eu dizia no início, isso, na prática, não aparece para a comunidade. Imagine investir esse total em obras, iluminação, pavimentação asfáltica, limpeza pública, enfim. Aí apareceria. Mas, tínhamos que viabilizar a prefeitura, pois para receber recursos mediante apresentação de projetos ao governo federal, ao estado, enfim, aos ministérios, precisamos estar fora do Cadin e dos outros entes. Tínhamos que ter a prefeitura negativada. E para que isso ocorresse, somente equalizando as dívidas, buscamos liquidar o que era possível, como o Batuva e manter os parcelamentos.

A Plateia – Comparando receitas e despesas ao longo dos dois mandatos, quais são os valores?
Wainer – Considerando a captação de recursos que buscamos articular e realizar, mesmo sendo dinheiro que demora para ser liberado, tivemos, no total, aproximadamente uma despesa de R$ 560 milhões e uma captação, ou seja, receita, ao redor de R$ 600 milhões. Ou seja, em oito anos, tivemos que dispor de pouco menos de R$ 40 milhões para manter o funcionamento de todo o sistema público, investir em projetos, oferecer contrapartidas para viabilizar recursos, entre uma série de outras ações de gestão. Claro que a população não vê melhorias, pois estão aí os recursos. Acabam até fazendo críticas e comparações sem qualquer base. Nosso principal compromisso financeiro fixo é com pessoal. Foram R$ 300 milhões, mais ou menos, com folha de pagamento, rigorosamente em dia, pois sempre respeitamos os servidores e buscamos sua valorização. Em transporte escolar – que também não se vê – foram R$ 11 milhões. Em vale-transporte para o funcionalismo foram R$ 11 milhões em oito anos. Para a Santa Casa, nesse período, foram R$ 16 milhões, para a Saúde, considerando médicos, hospitais e transporte foram R$ 12 milhões. Em iluminação pública foram R$ 11 milhões. Na limpeza pública, minha escolha foi fazer a coleta, pois já havia transporte e destino (local para alojar o lixo), ao todo foram mais R$ 14 milhões. Claro que diante dessa realidade administrativa fica muito apertado para atender as demandas. E o cidadão tem toda a razão, chega ao fim do ano, ao fim do governo e não há o que jogar para o ano que vem.

A Plateia – O que não faria de novo?
Wainer – Algumas coisas. Sinceramente, eu pensaria em deixar de pagar todas essas dívidas e faria investimentos na melhoria das questões que são cobradas pelas pessoas. Na limpeza pública, assim como os demais setores, seria necessário mais pessoas. Teria que ver como providenciar um concurso. Em síntese, tentaria não pagar as dívidas anteriores para sobrar dinheiro para investir, pois é de mim que cobram. É do Wainer que querem os resultados, ninguém se importa com o que fizeram aqueles que me antecederam.

A Plateia – Quais os pontos positivos na área administrativa?
Wainer – Deixamos uma prefeitura organizada para o próximo governo. Vários projetos já inscritos, contratos assinados para liberação de recursos visando investimentos. Respeitamos os técnicos, usamos os dois ouvidos para ouvir. Aprendemos a fazer um trabalho conjunto com o servidor, pois se ele não está satisfeito, não corresponde à expectativa do contribuinte e entendemos que esse contribuinte sempre tem razão, por isso deve ter um bom atendimento e precisa compreender a realidade do município. Procuramos valorizar o servidor público, com legislações salariais, pois é direito deles. Fizemos o possível, desde que legal e com condições de cumprir. Desde que fui vereador se discutia o plano de carreira do magistério. Fizemos esse plano. Não conseguimos terminar a Estação de Tratamento de Esgoto, pois o DAE não tinha dinheiro na época e precisamos fazer o sistema da Tabatinga, deixando a ETE por último. A empresa parou durante um ano e meio, mas agora terá continuidade. Realizamos vários processos licitatórios, muitos deles foram vazios, ou seja, sem que ninguém se apresentasse. É que as empresas de construção, em maioria, normalmente não se interessam pelas obras pequenas ou do setor público, pois o dinheiro é demorado, depende de burocracia para ter liberação.

A Plateia – Quais as frustrações que leva o prefeito Wainer?
Wainer – Frustrações… Deixamos prontos muitos projetos, já com destinação de recursos, bastando abrir licitação. Não vou poder ver prontos. Como as 30 casas da Morada da Colina, um recurso de projeto de 2009, que recém agora está liberado. Há muitos problemas que gostaria de ter solucionado, mas não foi possível, seja da viabilidade viária, da iluminação, enfim…

A Plateia – Para contrapor as frustrações, algumas realizações que deixa?
Wainer – Conseguimos realizar uma infinidade de cursos de capacitação e qualificação profissional. Como educador, para mim, isso foi positivo demais, porque possibilitamos às pessoas o conhecimento para trabalhar, e isso é patrimônio, é o investimento que fica na pessoa. Adquirimos vários carros para as ações em saúde. Mas para que tanto veículo? Ora, aqueles que têm problemas de saúde e precisam ser atendidos fora da cidade, pelos especialistas em cada setor, utilizam e muito, seja em Rosário, seja em São Gabriel, em viagens rápidas. Deixamos os dois CRAS no Armour e no Prado, ampliamos os beneficiários do Bolsa Família de 2.000 para 8.000. Assinamos contratos de asfaltamentos, alguns já com recursos liberados, outros restando apenas fazer licitação. Tem as UPAs, as casas na Brasília, que deverão ser entregues. Deixamos a Secretaria de Saúde negativada e em condições de captar recursos.

A Plateia – Como será a despedida do prefeito Wainer?
Wainer – Farei a transmissão do cargo ao Glauber no dia 1º com satisfação, desejando que tenha êxito na caminhada, dando continuidade ao processo de gerar desenvolvimento para a cidade. Espero que ele tenha mais luz do que eu e que não enfrente tantas dificuldades financeiras quanto nós, em 8 anos. Me despeço com o sentimento de dever cumprido por ter feito aquilo que era possível, legal e viável.

A Plateia – E após o dia 1º, qual o futuro de Wainer Machado?
Wainer – Tenho dito que vou me reapresentar para dar aulas no Estado. Tenho alguns convites. Posso continuar trabalhando na área política, junto com o deputado Beto Albuquerque. Enfim, vamos ver o que 2013 nos reserva.

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.


2 Comentários

  1. Aglae de araujo brochi

    Lendo aqui a matéria na qual o Professor Wainer coloca tudo que foi feito no seu mandato,deixo meus cumprimentos pela coragem e valentia de administrar Santana do Livramento com tão parcos recursos e tantasdívidas;obrigado Sr.Prefeito o senhor foi o marco de uma nova era paraSantana somente daqui há alguns anos nós santanenses nos daremos conta de que era necessário fazeresse sacrifício em prol do crescimento e da organização de nossacidade.

  2. ffmorelli

    Prezado(a)

     Gostaria de dizer ao Sr. Wainer, que nunca tinha visto um governo tão fraco em nosso município como tivemos durante seus 8 anos de gestor municipal. Torço que seja muito feliz em sua vida profissional e pessoal a partir de agora, mas espero que nunca mais volte como gestor municipal, pois acredito que agora com o Sr. Glauber teremos em fim um bom governo municipal, assim torço muito, so fiquei um pouco triste com o secretariado escolhido pelo Sr. Glauber, pois alguns nomes dos anunciados não passam ações positivas ao governo municipal. Secretariado deveria ser anunciado por pessoas especializadas na função e não por agrados políticos. Deveríam dar oportunidades a funcionários competentes que acredito que temos nas secretarias e não para pessoas que chegam de fora sem ter conhecimento e capacidade para tais funções.

    Atc,

    Fabio

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.