O último dos engraxates. Pelas ruas, há agora apenas um homem e sua caixa de engraxar sapatos

Aos cinquenta e dois anos de idade, Luis Alberto Corrêa Benitez resiste ao tempo e ao desaparecimento da profissão que já foi uma das mais disputadas nas cidades

Luis Alberto Corrêa Benitez insiste em atuar na profissão já quase extinta em Livramento e Rivera, mas que chegou a ter um número grande de adeptos

Já são quarenta e dois anos de profissão fazendo amigos e se consagrando como um dos rostos mais conhecidos da Fronteira. A atividade, praticamente em desuso, tem em Luis Alberto Corrêa, 52 anos de idade, o seu último representante: o engraxate. Uma pequena caixa de madeira nas mãos, escova, graxa incolor, marrom ou preta, passos curtos, porém, rápidos, e um sorriso farto. O último dos engraxates resiste ao tempo que insiste em não passar para que o homem que circula pelo centro da Fronteira, já não com tantos fregueses como em anos anteriores, mas com a imensa energia e esperança de encontrar sempre os fregueses de agora. Não demora muito tempo para Luis Alberto contar um par de histórias, receber clientes e oferecer, aliás, mesmo diante da equipe de reportagem, os seus préstimos. Aos jovens, pouco acostumados ou sem o costume de usar sapatos de couro, apenas tênis, Luis diz lamentar que nesse sentido as coisas tenham mudado. “As pessoas tinham o hábito de se vestir com mais elegância e usar calçados melhores. Essa gurizada só usa tênis e mal sabe o que significa a atividade de engraxate”, diz ele. 

O início 

“Comecei com oito anos de idade. Lembro que em Sant’Ana do Livramento existia um engraxate famoso que atendia pelo apelido de Baiano (que tinha entre os seus maiores prazeres, desfilar como um dos passistas da Sociedade Recreativa Os Acadêmicos). Foi com ele que aprendi as primeiras regras do bom engraxate. Ele fazia, eu olhada, ele me dava dicas e fui aprendendo. Até que ganhei independência, os primeiros clientes e nunca mais parei. Assim sustentei, e sustento até hoje a minha família”, revelou o engraxate. 

Clientela 

Apesar das mudanças ocasionadas pelo tempo como a redução dói hábito de engraxar sapatos pelas ruas nas mãos dos engraxates, alguns clientes não abrem mão de entregar o seu calçado às mãos experientes de Luis Alberto Corrêa. “Tenho clientes nos hotéis onde sempre sou chamado para prestar serviços. Hoje meus clientes são empresários, funcionários de alguns free shops que usam sapatos e precisam estar sempre bem apresentados. Nas ruas, muito poucos param e pedem para acomodar um dos pés no apoio específico da minha caixinha e permitir engraxar e lustrar os seus sapatos”, frisou ele. Luis Alberto Corrêa fala com orgulho do fato de ter educado a filha, que atualmente reside em Buenos Aires, somente com os ganhos obtidos com sua atividade de engraxate. “Dei educação à ela e sempre procurei o melhor para minha filha”, revela com sorriso nos olhos. 

Diversificação 

Com o passar do tempo e a necessidade de aumentar a renda da família, o último dos engraxates conta que na alta temporada de verão, se desloca até Punta Del Este, a praia mais famosa do Uruguai e uma das mais conhecidas do mundo, e vende flores nos bares e restaurantes. “E assim vou levando a vida, trabalhando com dignidade sendo feliz do meu jeito”, afirmou ele. Durante a entrevista, Luis Carlos Corrêa Benitez não deixou escapar o cliente que passava por uma das esquinas movimentadas da Avenida Sarandi, se acomodou e sem deixar de responder às perguntas, fez o seu serviço da mesma maneira que o faz há exatos 42 anos. Ao final, agradeceu pela preferência, como se ainda houvessem outros engraxates atuando na cidade, pediu licença e foi embora assoviando por entre a multidão que se aglomera nestes dias da pressa para as compras natalinas.

 

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