Um pouco de Gardel num cantinho de Rivera

São poucos metros em uma rua pequena e que passa quase despercebida, mas que homenageia o maior nome do tango em todos os tempos

“Discuto com quem diz que Carlos Gardel não nasceu em Tacuarembó, minha cidade natal”, diz a dona de casa Teresa Marques

Ali, por onde muitos passam, sob a forma de placa há um cidadão imortalizado, cuja presença poucos percebem. Mesmo diante da controvérsia sobre a origem do seu nascimento – alguns afirmam ter ocorrido em 11 de dezembro de 1897, na cidade de Tacuarembó, no Uruguai, outros dizem ter ocorrido no dia 11 de dezembro de 1890 em Toulouse, na França – há unanimidade na afirmação de que Carlos Gardel foi, e ainda é, considerado o maior nome do tango de todos os tempos. Homenagens ao astro se esparramam pela capital do Uruguai, Montevideu, e na cidade de Tacuarembó. Porém, na vizinha cidade de Rivera, em um cantinho que passa quase despercebido, uma homenagem de apenas duzentos metros lembra, aos que percebem a placa indicativa no início da rua, que as ligações musicais de Gardel foram além e, ainda hoje, seus fãs órfãos fazem questão de saudá-lo.

Carlos Gardel morreu na cidade de Medellín, na Colômbia, em 24 de junho de 1935.

“Para mim, Gardel é o melhor como cantor e como pessoa”

“Sou nascida e criada em Tacuarembó, cidade que para nós é tida como a terra natal de Carlos Gardel. Não tive a chance de conhecê-lo pessoalmente, mas meus pais sim. Eu ouvia as histórias que eles contavam sobre o artista”, relata a dona de casa Teresa Marques, 66 anos, e que diz se orgulhar de ter nascido na mesma cidade que o seu ídolo. Moradora há 15 anos da rua Carlos Gardel, em Rivera, a dona de casa diz que sente saudade de sua terra natal e que somente veio para Rivera para acompanhar sua mãe, já falecida. “Nunca aprendi a dançar tango, mas não abro mão de escutar todas as músicas de Gardel, porque me considero fã incondicional”, diz ela. Ao comentar a coincidência que fez com que uma cidadã da cidade de Tacuarembó, fã de Carlos Gardel, acabasse morando na rua que leva o nome do ídolo, Teresa Marques diz que não poderia viver em lugar melhor na cidade de Rivera. “Todos os dias eu abro as janelas e as portas da minha casa e lá está a placa, bem na altura dos meus olhos: Carlos Gardel. Isso é maravilhoso!”, revelou ela, ao dizer que onde estão os acordes dos tangos de Gardel, ela está presente. Teresa Marques fez questão de deixar clara a sua defesa com relação ao local de nascimento de Carlos Gardel. “Eu discuto com quem diz que Gardel não era uruguaio e muito menos da cidade de Tacuarembó. Faço sempre questão de deixar claro que ele é, sim, uruguaio e que nasceu na minha cidade natal”, afirmou.

“Eu escuto Carlos Gardel todos os dias, às 5h”

Nas casas da rua Carlos Gardel, o orgulho de ter estampado o nome do ídolo ao lado do número da residência

“…Acaricia mi ensueño; el suave murmullo; de tu suspirar. Cómo ríe la vida; si tus ojos negros; me quieren mirar.” A letra de Alfredo Le Pera e música de Carlos Gardel, “El Dia Que Me Quieras”, ainda hoje pode ser escutada todas as manhãs em uma outra residência da rua que leva o nome do cantor, em Rivera. Aos 78 anos, Maria Rufina Nicolini lembra com saudade dos tempos em que dançava tangos com o marido Juvenal Viera. “Moro há apenas dois anos nesta rua, mas desde sempre eu escuto as músicas do Gardel. As pessoas já não dão mais tanto valor a ele quanto deveriam, mas eu sigo escutando suas músicas mesmo assim, todos os dias, às 5h, pelo rádio. Eu não danço mais os tangos hoje em dia, mas canto e me encanto com Carlos Gardel a cada canção que ainda escuto”, revelou a aposentada, com sorriso nos lábios e o olhar saudoso de quem quase consegue repetir acordes, ao contar histórias que ficaram guardadas no passado e na memória.

A rua localizada no bairro Insausti, em Rivera, com pouco mais de duzentos metros, apesar de homenagear, não mensura a importância de Carlos Gardel para a música mundial e quase passa despercebida no bairro

Por Cleizer Maciel
cleizermaciel@jornalaplateia.com

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