Acidente mata dois na Faxina

O trânsito ficou interrompido por sete horas na ponte que liga Sant’Ana do Livramento a Dom Pedrito e à região central do Estado

“Eu vi apenas que as luzes todas se apagaram e percebi que algo muito estranho estava acontecendo bem perto dos meus olhos. Quando estava a pouco mais de quinze metros do local do impacto, comecei a frenar meu caminhão desesperadamente e vi, distante de mim apenas cinco metros, que dois ônibus haviam se chocado frontalmente. “Estava escuro, chovia muito e vi logo uma mulher descer com uma criança nos braços, coberta de sangue. Então, eu me dei conta que estava diante de uma tragédia”. O testemunho, umedecido pelas lágrimas, do motorista de um caminhão que havia sido ultrapassado apenas dois quilômetros antes do local do acidente que despertou Sant’Ana do Livramento e que ocorreu em cima da ponte da Faxina, foi um relato fiel do momento da colisão. O cenário, desesperador, impressionou pela violência do impacto até mesmo os profissionais experimentados que atuam na Polícia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros, Brigada Militar e Polícia Civil, além de médicos e enfermeiros que trabalharam no resgate dos feridos. 

Sob chuva

João Carlos da Silva era o motorista do ônibus que transportava professores até a escola Aurélio Guerra, no interior do município

Depois de uma madrugada que registrou chuva intensa na cidade, poucos minutos haviam se passado das 6h da manhã, quando a estrutura da ponte da Faxina estremeceu sobre o vão. De um lado, um ônibus dirigido por João Carlos da Silva, 66 anos de idade, motorista experiente e que levava um grupo de seis professores, e um outro motorista que seguia de carona, até a escola Aurélio Guerra, localizada na zona rural do município. Do lado oposto, no outro ônibus, estava Evandro Moura de Souza, 33 anos, motorista da cidade de Vacaria, que tinha como missão trazer para Livramento uma nova família, cujo desejo era se estabelecer na cidade. Os segundos fatídicos se perderam para sempre na história com o óbito dos dois motoristas, que aconteceu ainda no local. Os minutos que se seguiram foram de agonia, pânico e completaram um cenário catastrófico, forjado por veículos de muitas toneladas, que ficaram completamente misturados pela violência do impacto. A colisão resultou em duas mortes e onze pessoas feridas, sendo algumas em estado grave. O resgate proporcionou uma corrida frenética de ambulâncias na BR 158, todas elas com a missão de levar até a Santa Casa de Misericórdia, professores, pelo menos duas crianças, passageiras do ônibus vindo da cidade de Vacaria, além dos demais ocupantes do veículo visitante. O motorista do ônibus da empresa de Vacaria, Evandro Moura de Souza, ainda permanecia no necrotério da Santa Casa de Misericórdia até o fechamento desta edição, e deverá ser levado para sua cidade natal onde será enterrado.

Lista de passageiros (vindos da cidade de Vacaria)

Cleia Maria Barbosa

E.L.B.M (criança)

B.R.B.M. (criança)

B.M.M.S. (criança) 

Passageiros do ônibus escolar

Joice Velasques Ribeiro (diretora da escola)

Cibele Pinto Alves (professora)

Wellington dos Santos Rolin (professor)

Mario Cesar (professor)

Laura Pinto ( professora)

Cibele Rodrigues (professora)

Nelson Fonseca (motorista)

Uma terça-feira e sua coincidências

 

Há um grupo de homens acostumados, e preparados, para trabalhar em situações extremas como catástrofes, sinistros e acidentes de trânsito. Mas mesmo estes desabam quando em algumas destas situações envolvem alguém com certo grau de parentesco. O desmoronamento emocional se torna ainda maior quando o fato envolve um pai de família. João Carlos da Silva, motorista do ônibus que fazia o transporte de professores para a escola Aurélio Guerra, era pai de um soldado. O Capitão Qoem Sandro Carlos Gonçalves Da Silva, comandante da Seção de Combate a Incêndios em Bento Gonçalves, acostumou-se a salvar vidas e, por ironia do destino, não conseguiu salvar a do seu progenitor. O pai de um bombeiro, homem que é muitas vezes considerado um anjo da guarda por aqueles que salva, morreu no local fazendo o que mais gostava: dirigir levando e trazendo pessoas com segurança aos seus destinos. O corpo foi velado na sala da Capela Santo Antônio, em Livramento. O enterro acontece às 10h desta quarta-feira, no cemitério Municipal.

 “Até agora não caiu a ficha”

Um dos professores que ia no ônibus escolar relatou a experiência

No ônibus escolar que se dirigia à Escola Municipal Aurélio Guerra, envolvido no acidente da manhã de ontem, estavam oito pessoas, seis professores e dois motoristas. Wellington dos Santos Rolin, um dos professores presentes no ônibus, contou à reportagem de A Plateia, no início da tarde de ontem, que o ônibus realiza o mesmo trajeto todos os dias, de segunda a sexta-feira. “O motorista saía de casa às 5h da manhã e ia pegando os professores no caminho, em locais combinados. Logo após, ia pela BR 158, direto para a escola”, contou.

O ônibus transportava o também motorista Nelson Fonseca que, rotineiramente, ia até o posto de gasolina, no mesmo trajeto, para, com outro veículo, passar em diversos assentamentos e levar os alunos até a escola. De acordo com o professor de matemática, os seis professores viajavam dormindo, como acontece todos os dias. “Vamos dormindo até chegar à escola. Acordamos com um estouro, um barulho muito forte. Mas é difícil dizer o que aconteceu na realidade”, destacou. Wellington acrescentou que na hora ajudou a retirar os colegas do veículo e que somente duas colegas tinham ferimentos mais graves. “Uma das professoras quebrou o nariz e a outra será encaminhada para Porto Alegre”, contou.

O professor conta que o grupo levou um susto na hora do acidente. “O barulho foi grande, mas na hora, pensamos em retirar os colegas do ônibus”, disse. O motorista do ônibus, segundo Wellington, era ótimo motorista e fazia o mesmo trajeto há mais de cinco anos. “Era uma pessoa muito alegre, que se dava muito bem com a gente, sempre conversando com todo mundo”, relatou.

NOTA

A Secretária Municipal de Educação, professora Vera Machado, comunica que as aulas das escolas rurais que utilizam transporte escolar estão SUSPENSAS até segunda ordem.

São 10 escolas estaduais, que utilizam 22 linhas de ônibus, e 13 escolas municipais, que utilizam 29 linhas de ônibus.

A secretária informa que devido à grande quantidade de chuva dos últimos dias, e após o acidente ocorrido nesta data, é preciso priorizar a segurança dos professores e alunos da zona rural que utilizam transporte escolar, sendo que posteriormente será organizado um calendário alternativo para o cumprimento do ano letivo.

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