Nelmo Oliveira, sem rótulos

Guri que, como muitos nos anos 70 e 80, veio para “o povo” estudar, trazendo a saudade da vida rural no meio onde foi criado. Nascido no extinto Hospital Militar, filho de Nelson Peres de Oliveira e Maria Olina Gonçalves de Oliveira, Nelmo Gonçalves de Oliveira tem na Vila de Pampeiro sua referência. Lá, onde formatou sua têmpera, conheceu as lides campeiras, brincou em tudo que a salutar vida de campanha permitiu, forjou a essência de um homem que se define sem rótulos. Depois de ter cursado até a quarta série na escola Pedro Comas, veio para a cidade, estudar no Professor Chaves e, depois, no Alceu Wamosy, onde frequentou o curso de Agente de Defesa Sanitária Vegetal. Fins dos anos 70, começo dos 80, o guri de Pampeiro entra na adolescência, tornando-se auxiliar de depósito, o primeiro emprego formal, ainda que seu foco fosse estudar.

“Ganhei, trabalhando, um pouco de visão de mundo, embora meus familiares continuassem morando em Pampeiro e a saudade fosse uma constante. Tive uma infância muito feliz e era muito introvertido até entrar para o quartel, em 1985” – recorda, puxando as memórias de seu passado.

Em 1986, transformando a ausência da família em sentimento positivo, começou o interesse pela música. “Ouvia Gildo de Freitas, Teixeirinha, José Mendes, Pedro Raimundo, todos essências da música gaúcha, falando de assuntos que eram minhas origens. Não deu outra. Comecei a atuar nessa área, no conjunto musical Sepé Tiarajú” – lembra. A partir de 1990, como operador de áudio e de técnica da rádio Cultura AM, a ligação tornar-se-ia mais forte e o músico em formação concretizava seus primeiros passos rumo ao profissionalismo. Como radialista, era natural a ligação. No ano 90, Nelmo ingressa no grupo Fandango Nativo. Cinco anos, um disco de muito sucesso e inúmeros shows e apresentações se sucederiam, percorrendo o Rio Grande do Sul, entre outros estados, como São Paulo com a música regionalista gaúcha.

Findo o período como músico, dedicou-se à carreira do Direito, formando-se em 1997 na Universidade da Região da Campanha (Urcamp) de Livramento. Para definir Rio Grande do Sul, aplica uma única palavra: orgulho, no sentido positivo da palavra e, ante a definição de Sant’Ana do Livramento, sintetiza com emoção: minha casa. 

Trajetória de trabalho e perseverança 

Casado há 10 anos com Lia Rejane Moraes Ferreira, Nelmo planeja filhos para o futuro. Apreciador da vida em família, afirma que é esse seu sustentáculo, pois sua infância e adolescência foi assim, com valores, princípios, simplicidade. “Vivi, sempre, o verdadeiro, o natural, com simplicidade, do tempo em que na campanha se reuniam as pessoas, as famílias para festas surpresas como ápice de confraternizações. Dali vem meus valores, meus princípios, minha idoneidade, pois, de fato, vim para a cidade com 12 anos de idade e conheço nossa história vivenciada. Sou do tempo em que Pampeiro era uma potência na agricultura, com grandes colheitas manuais, a foice, reunindo 2.000 homens em uma lavoura, gerando trabalho. Naquela época, também havia a extração da madeira, dois elementos muito fortes da econômica local. Lembro bem disso” – recorda.

Com o FEGART, em Santa Cruz e o FEPART, em Guarapuáva, no Paraná, Nelmo chancelou sua essência de músico tradicionalista gaúcho e, sobretudo, de riograndense, segundo recorda, com a vivência artístico-cultural. “Não imaginava, um dia, participar ativamente, de grandes eventos da cultura gaúcha, ou mesmo, de um evento máximo do Rio Grande do Sul, do tradicionalismo nosso” – refere. “Percebi, na música, a forma de transmitir sentimentos e, principalmente, alegria para as pessoas, de forma saudável” – afirma.

Bem humorado, Nelmo recorda que antes de chegar à Câmara de Vereadores, a batalha foi intensa. Foram muitas passagens de trabalho, como a do dia da eleição, quando permaneceu toda a madrugada percorrendo locais onde estavam os materiais de publicidade, para verificar se estava tudo de acordo, tendo amanhecido na sala da casa de um amigo, batendo papo até o início do horário da votação.

Aquela noite insone, como as tantas outras que a antecederam, foram as credenciais para que entendesse que a trajetória política se faz na firmeza de vontade e na perseverança. Era sua primeira candidatura a vereador e, por insuficiência de legenda à época, mesmo com mais de 600 votos, não foi eleito.

Feijão, carreteiro, churrasco e espinhaço mexido são os pratos preferidos de Nelmo. “Mas não tenho bobagem, como de tudo. Claro, gosto da comida campeira, sucos naturais e, eventualmente, até um vinho ou uma cerveja, socialmente” – afirma. Para descansar, gosta de estar em casa, dedilhando um violão e, principalmente, em contato com a terra. “É assim que revejo minhas raízes, com simplicidade, retomando as memórias da casa dos meus pais. Hoje, moro em apartamento, mas, de modo geral, sinto-me bem onde estão as pessoas, nos lugares belíssimos que temos aqui em Livramento e que propiciam isso. Nos encontros sociais, nas festas campeiras e artísticas, no Batuva, enfim” – explana. 

Religiosidade e o propósito 

Nelmo Oliveira se define como cristão. “Estou permanentemente ligado a Deus, agradecendo, pedindo, creio na minha vida como um propósito que Deus tem para mim. Por isso, a força de minha ligação com ele, em todos os momentos, firmemente, pois ele jamais nos desampara” – afirma. Explica que o propósito é, na verdade, o permanente combate às desigualdades, independente da função que ocupe ou da oportunidade que tenha, da atividade que exerça. “Tenho um senso de justiça muito forte e, nesse sentido, tenho convicção de que estou na direção certa, pois quero ajudar meu povo, seja desempenhando este ou aquele papel, como prefeito, quem sabe depois, com uma outra representação. Mas é tudo uma caminhada, passando-se etapa por etapa” – manifesta. “Esse é o Nelmo pelo Nelmo mesmo, sem rótulos. As pessoas, principalmente sem conhecimento, têm a mania de colocar rótulos nos outros. Nunca me deixo rotular por quem quer que seja, pois considero que qualquer espaço que venha a ocupar e que ocupe está dentro do propósito. É preciso que fique muito claro que cada um tem seus pensamentos e convicções e as segue, sem depender de outros” – refere. “Os cargos não fazem os homens, mas precisamos ter a serenidade de saber que os homens devem fazer dos cargos uma ferramenta para seus semelhantes, harmonizando os interesses da coletividade com serenidade e capacidade. Esse é o sentido que vejo” – coloca. Músico, radialista, advogado, político, são as profissões e atividades, mas questionado sobre a profissão que, em não exercendo as demais, teria, Nelmo responde: juiz de Direito, “justamente em função do meu senso de justiça”. Nelmo ressalta que vem procurando colaborar para colocar Sant’Ana do Livramento em outra esfera e esse trabalho se dá como agente político, como vereador, como músico, bem como no desempenho de todas as outras atividades.

Apreciador de documentários, telejornais e filmes que contenham histórias das pessoas e de seu cotidiano, Nelmo Oliveira gosta de ler livros da área do Direito, de Gestão, literatura em geral, autoajuda e experiências da vida. “Às vezes, leio a Bíblia, recapitulando o conhecimento sobre ela” – conta. 

Pontos de importância 

Questionado sobre o que mais lhe desagrada, Nelmo Oliveira cita o egoísmo, a violência, a desigualdade do mundo, a miséria, a fome, ao passo que emoções e sentimentos que traduzam verdade, alegria, simplicidade são as que mais lhe tranquilizam. Ante uma oportunidade de trabalhar com cores, Nelmo diz que escolheria três, o branco, em função da paz que representa; o amarelo, cuja maior simbologia é a riqueza – em todas suas formas – e o vermelho, por esta última tratar diretamente da essência da vida. Nelmo pondera que sua formação humana jamais permitiria que a condição que exerça “suba para a cabeça”. Ser o que é, conforme entende, é o que há de mais compreensível para o ser humano, mesmo que este, em alguns casos, tenha entendimento completamente diferenciado dessa simplicidade.

 

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