A Língua Portuguesa no concurso do magistério

O resultado do concurso do magistério deixou perplexas as autoridades da educação, causando desalento na sociedade, que esperava muito mais dos seus educadores. Não se pode deixar de admitir, conforme dito por muitos candidatos, o alto nível de dificuldade das provas no aspecto geral, pois eram várias disciplinas para serem estudadas e que incluíam muitas obras da literatura pedagógica; todavia, podem-se observar outras questões que às vezes passam despercebidas de todos. Uma delas é facilmente identificável – a dificuldade dos candidatos para resolver as questões de Língua Portuguesa. Depois de uma criteriosa análise da relação de aprovados e reprovados no concurso, vê-se um desastre no que se refere aos acertos das questões de Língua Portuguesa. A primeira surpresa é exatamente dos candidatos formados em Letras; muitos destes são professores de nossos filhos. Assim, vejamos alguns números desta vergonha protagonizada pelos candidatos inscritos na 19ª Coordenadoria Regional de Educação.

Dos 270 candidatos letrados que realizaram as provas, 140 foram aprovados nas questões de Língua Portuguesa, sendo reprovados 130. Um percentual muito baixo se analisarmos que estes obtêm um diploma em curso superior para, precipuamente, dominar a língua materna. Logo, ao analisar os candidatos que aspiravam ao cargo que exigia licenciatura em Pedagogia, constata-se que dos 26 candidatos que realizaram a prova, somente 07 atingiram o mínimo nesta disciplina. É vergonhosa esta situação, considerando que a pedagogia tem como objetivo principal a melhoria no processo de aprendizagem dos indivíduos, e, certamente, a utilização da linguagem culta, formal, é essencial para atingir os objetivos que conduzirão os alunos ao caminho de evolução do aprendizado.

Igualmente, a maioria dos candidatos licenciados em outras áreas (Educação Física, Química, Sociologia, História e outras) não obteve o número mínimo de acertos na disciplina em questão. Dos 514, foram aprovados somente 227. Interessante é o fato de que os licenciados em Matemática, Educação Física e Biologia, contribuíram decisivamente para o baixo índice deste grupo, uma vez que somados atingiram 57% de reprovação. Esta constatação leva-nos a refletir sobre a qualidade das universidades de nossa região.

O bolo maior – para o cargo mais concorrido -, é o que mais espanta pela reprovação nas questões linguísticas. Dos 1037 candidatos com o Curso Normal (Magistério), somente 49 foram aprovados em Língua Portuguesa, ou seja, apenas 4,7%. Neste contexto, ficam claras as deficiências destes candidatos nos aspectos relativos à linguagem; considera-se também que aí estão inseridos muitos pedagogos que concorreram ao mesmo cargo; ou seja, aqueles que têm a missão de, nos anos iniciais, conduzir as nossas crianças no processo de alfabetização, são os que mais desconhecem as questões linguísticas, principalmente de Fonética e Fonologia, sendo que esta constatação já foi feita através de estudos monográficos realizados em 2008 (disponíveis na biblioteca da Urcamp, campus de S. Livramento). Para completar o desastre, têm, ainda, aqueles que concorreram para lecionar em Educação Especial. Dos 32 candidatos, somente 06 conseguiram aprovação. No geral, retirando os ausentes, foram 1879 candidatos, aproximadamente, que realizaram as provas; destes, 429 conseguiram passar na disciplina em tela, um percentual de 22% de aprovação. O fracasso no concurso, principalmente nesta disciplina, nada mais é do que o reflexo de um sistema de ensino equivocado, que não prioriza o ensino da gramática e da produção textual, da alfabetização ao ensino superior. Novas metodologias de ensino criticam a aprendizagem de regras gramaticais com suas exceções e a produção de textos para serem objetos de correção (constante nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa). Na verdade, faz-se necessário uma revisão no ensino como um todo, para que seja garantido, na pratica, o aprendizado da leitura e da escrita.

Enfim, não podemos culpar os professores pelo péssimo desempenho no concurso ou pela realidade da educação brasileira; devemos sim condenar o sistema de ensino, uma vez que não prepara bem os docentes, aceita alfabetizadores com o ensino médio e sem o mínimo conhecimento de sua língua materna, não insere a disciplina de Língua Portuguesa em todos os semestres dos cursos da área de educação e, ainda, critica a gramática normativa, no entanto, ela é exigida em todos os concursos públicos e nos vestibulares das melhores universidades. De tudo, resta-nos aguardar a segunda parte desta novela, pois já foi anunciado um novo concurso. Pergunta-se: Será que é só para angariar mais dinheiro? Terá sido muito exigente para desqualificar os professores, para que não se sintam motivados na busca de melhorias salariais? É jogada política?

Dirnei Rodrigues Bandeira Licenciado em Letras

 

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