Homicídio ou intoxicação?

Polícia investiga morte de três pessoas por suposto envenenamento, na vila Santa Clara

Vista aérea da vila Santa Clara

A morte de três homens e a internação de um quarto, durante a madrugada de ontem (11), vítimas de um possível envenenamento, está intrigando a Polícia de Sant’Ana do Livramento, que aguarda os laudos médicos para determinar uma linha investigativa, que poderá ser de triplo homicídio, por envolvimento com o tráfico de drogas.

Conforme o que pôde ser apurado nesta quarta-feira, por volta das 3h50, dois táxis foram acionados na vila Santa Clara, proximidades dos trilhos e da rua Argemiro Simões Moreira, com objetivo de socorrer três homens que estavam passando mal, após terem ingerido um coquetel a base de pêssego. O acesso às vítimas ocorreu pela rua Rivadávia Corrêa, em um beco comumente utilizado por consumidores de entorpecentes e álcool, na chamada área da “cracolândia”, jargão utilizado pelas forças policiais da cidade, tendo em vista as inúmeras ocorrências relacionadas ao tráfico de drogas na região.

As vítimas já teriam chegado ao hospital quase sem vida e um, talvez, em óbito, não dando chance de qualquer intervenção médica para mantê-los vivos. Conforme o boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), morreram os irmãos Patrique Renan da Silveira Rodrigues, de 22 anos, e Daniel do Amaral Rodrigues, de 32 anos, ambos da Vila Emilia. A terceira vítima fatal foi Adão Paulino da Rosa, de 33 anos, residente na vila Santa Clara, que era irmão de Paulo Roberto Paulino da Rosa, de 35 anos, quarta vítima, que continuava internado na UTI da Santa Casa. Seu estado de saúde, conforme o último boletim médico, inspirava cuidados.

Cenário de horror

Conforme Rodrigo Bravo Bolivar (foto), bioquímico e citologista clínico, que foi acionado por volta das 4h15, o cenário no Pronto-Atendimento Médico da Santa Casa era de horror. “Fui acionado por volta das 4h15, me disseram que havia casos de intoxicação e quando cheguei ao PA me deparei com aquela cena horrível, três corpos sobre as macas e uma quarta vítima sendo atendida pela equipe. Havia muito sangue, pois com as convulsões, ele havia se cortado, e muito esforço de médicos e enfermeiros para tentar salvá-lo. Foram solicitados exames toxicológicos, mas não foi possível uma coleta de urina, então realizamos apenas a coleta do sangue dos cadáveres. Na quarta vítima, ainda com vida, foi possível realizar uma rotina toxicológica e de UTI, como é de rotina neste tipo de situação. Enviamos para o laboratório de apoio que fica em Curitiba/PR e os resultados finais saem em 48 horas”, destacou Rodrigo.

Moradores apontam local onde vítimas estavam reunidas

Local que serve de ponto de reunião para usuários de drogas

Vizinhos apontaram, na manhã de ontem, o suposto local onde as vítimas estiveram reunidas, durante a madrugada, consumindo o coquetel mortal. Conforme estas testemunhas, o beco, no fim da rua Rivadávia Corrêa, quase imperceptível, escondido atrás das árvores, é usado por grupos, consumidores de bebidas e entorpecentes. O local, até mesmo com banco improvisado, fica nos fundos de um terreno baldio, o qual apesar de ser particular, não está cercado. Moradores relataram à reportagem que, inclusive, já solicitaram providência ao proprietário para o fechamento do terreno, mas que até o momento não receberam resposta favorável, o que poderia coibir, segundo eles, a reunião e o trânsito de pessoas no local.

 

 

 

Ficha Policial

PAULO ROBERTO PAULINO ROSA: antecedentes policiais como autor de resistência, autor de outras contravenções referentes a pessoa, acusado de lesão corporal, ameaça, e vias de fato. Internado na UTI da Santa Casa (inspira cuidados).

 

 

 

 

PATRIQUE RENAN DA SILVEIRA RODRIGUES: antecedentes policiais por apreensão de objeto (6 vezes), furto qualificado (4 vezes), furto simples em residência (4 vezes), entorpecentes – posse, desacato, furto descuido, receptação, furto em veículo, conduta inconveniente – apreensão de objeto, furto/arrombamento a estabelecimento de ensino, receptação qualificada, receptação, furto de telefone celular – acusado com problema mental, furto qualificado. MORTO

 

 

 

DANIEL DO AMARAL RODRIGUES: antecedentes policiais como indiciado por furto qualificado em residência, acusado de porte ilegal de arma de fogo, acusado de dano/tentativa de furto, acusado de furto mão grande. Esteve recolhido na Penitenciaria Estadual de Livramento em 2004, por furto qualificado (DL 2848 (CP) ART 155 PAR 4 INC I). MORTO.

 

 

 

ADÃO PAULINO DA ROSA: antecedentes policiais como acusado de perturbação da tranquilidade (3 vezes), autor de lesão corporal (2 vezes), indiciado por tráfico, acusado de vias de fato. Esteve recolhido na Penitenciária Estadual de Livramento em 2011, por tráfico de drogas (lei 11343 ART 33). MORTO.

 

 

 

Delegada afirma que vítimas tinham passagem policial e eram consumidoras de drogas e álcool

A delegada Marlova Michele Guedes, titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil, destacou durante entrevista, na tarde de ontem, que todas as vítimas envolvidas no episódio da madrugada possuíam passagem policial, por crimes de furto, lesões corporais e por consumo e posse de entorpecentes. Ela ainda afirmou que eram usuários de bebidas alcoólicas.

Quanto à linha investigativa, a delegada destacou que tudo dependerá dos exames periciais e dos laudos médicos. “Já ouvimos algumas testemunhas, pessoas que prestaram socorro às vítimas. Trabalhamos com duas linhas investigativas, homicídio e intoxicação por ingestão do referido coquetel que foi apreendido. Vamos ter que aguardar os resultados periciais da bebida apreendida e dos laudos médicos realizados nos cadáveres”, explicou.

Marlova ainda classificou como peça fundamental no inquérito policial o depoimento de Paulo Roberto Paulino da Rosa, que permanece internado na UTI. “Assim que possível, ele será ouvido e será uma testemunha chave para o esclarecimento deste acontecimento”, finalizou.

Comerciante afirma  não ter vendido coquetel às vítimas

Comerciante há 40 anos na rua Silva Jardim, Getulio Gomes Pintos nega veementemente ter vendido o coquetel de pêssego que supostamente teria envenenado os quatro homens e matado três deles, na madrugada de ontem, na vila Santa Clara.

Em entrevista exclusiva ao jornal A Plateia, o comerciante dono de um bar conhecido na comunidade próxima à rua Argemiro Simões Moreira – de onde eram oriundas as vítimas – afirmou que na noite em questão não os viu, nem vendeu nenhum tipo de bebida a eles. “Ontem, eles não vieram aqui no bar, e outra coisa: eu não vendo coquetel de pêssego. Falaram isso na ocorrência policial porque, às vezes, eles vêm aqui comprar refrigerante, arroz e coisas assim”.

Porém, Getulio Gomes Pintos confirmou que conhecia uma das vítimas, que morreu e que morava nas redondezas. “Conhecia, sim, porque todo mundo se conhece aqui, mas tem que falar quem disse que venderam aqui pra eles, porque eles não vieram aqui, tenho certeza que não vieram aqui. Pode perguntar pra esse que sobreviveu quem deu isso aí pra eles, porque eu não sei por que disseram que eles compraram isso aqui. A polícia andou aqui e eu mostrei os freezers, minha filha abriu e mostrou: não tem coquetel, eu não vendo essa bebida”, declarou o comerciante.

Exames apontam consumo de cocaína e crack

Informações extraoficiais, colhidas na tarde de ontem, dão conta de que as vítimas haviam consumido substâncias como cocaína e crack. Os exames iniciais vão passar por contraprova, mas conforme fontes (que serão preservadas), as substâncias encontradas nos exames das vítimas podem permanecer mo organismo por cerca de cinco dias, até que sejam completamente eliminadas através da urina.

Pessoas envolvidas no atendimento das vítimas e policiais comentaram que a substância utilizada para o suposto envenenamento foi extremamente potente, já que a quarta vítima já se encontrava em frente ao Pronto-Atendimento Médico da Santa Casa, quando teria ingerido, pelo menos, um gole do coquetel de pêssego. Alguns minutos depois, Paulo Roberto Paulino da Rosa começou a sentir-se mal e logo entrou em convulsão, sendo encaminhado à UTI, onde permanecia até ontem.

Os resultados dos primeiros exames enviados para fora da cidade e Estado deverão ficar prontos, no mínimo, em 48 horas, e deverão nortear as investigações policiais.

 

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