Games influenciam crianças a terem comportamento violento?

Psicóloga explica o que pode levar jovens a cometerem crimes e como os pais podem identificar os sinais

Filipe Morel é fã de vídeo game, mas considera que jogos violentos não influenciam em sua “vida real”

Após o assassinato de cinco membros da família Pesseghini em São Paulo, e a suspeita de que o filho do casal, Marcelo Pesseghini, de treze anos, teria assassinado seus pais, avó e tia-avó e depois se suicidado, veio à tona uma discussão em torno da relação entre os jogos de vídeo-game violentos e a influência que podem gerar sobre o comportamento de uma criança ou adolescente.

O menino Marcelo, assim como milhares de outros, tinha a imagem de um personagem de jogo em seu perfil na rede social facebook (o anti-herói de Assassin’s Creed). 

Filipe Morel, 18 anos, ilustrou a foto desta matéria e contou à reportagem que joga vídeo-game desde os dez anos de idade, variando entre futebol, corrida de carros, luta e tiro. Apesar de gostar do entretenimento, ele não se considera dependente do jogo, pois vê a atividade como lazer, praticada somente nas horas vagas.

Ele também confessa que por muitas vezes desejou ser o personagem de alguns jogos, como, por exemplo, o GTA – Grand Treft Auto, onde o personagem tem liberdade para realizar diversos atos, como assaltos, roubos e diversos atos ilícitos. “Mas não é por isso, e sim por diversas atividades comuns da vida diária, bem como outros personagens, em outras situações”, argumentou.

Filipe tem um irmão de 14 anos que, segundo ele, joga mais, por ter mais tempo livre. O jovem afirmou, também, que muitas vezes já chegou a brigar com o irmão por causa do jogo. “Mas esse tipo de coisa nunca ultrapassou o limite do jogo, não é algo que influencie diretamente na minha vida”, assegurou. 

Em entrevista à reportagem, a psicóloga Cinthya López Sapundllieff esclareceu algumas dúvidas a respeito do comportamento infantil e as influências do meio. 

A Plateia: Até onde jogos de vídeo game que contenham cenas e atitudes violentas podem influenciar a personalidade de uma criança ou adolescente?
Cinthya: Podem influenciar sim, pois a criança não faz uma clara diferenciação entre real e imaginário. Mas é importante lembrar que não é fator determinante, pois não é somente o fato de ter acesso a jogos violentos que atitudes violentas irão se desenvolver. A questão é que esse modelo de comportamento pode se naturalizar. Jogos violentos podem dessensibilizar as pessoas e banalizar a violência.

A Plateia: Somente os jogos podem mudar o comportamento de uma criança, ou o convívio familiar pode estar associado?
Cinthya: Não, o comportamento de uma criança muda por diversos fatores. Um deles pode ser a exposição aos jogos, porém a família é um sistema e, como tal, ele se conduz. Isso quer dizer que tudo o que acontece na vida social, cultural e também biológica da criança se funde ao comportamento dela em todos os aspectos do seu mundo.

A Plateia: De que forma os pais podem identificar uma mudança de comportamento nos filhos?
Cinthya: É só prestar atenção no seu comportamento. Depressão, insônia, pesadelos, devem ser observados. Se o pai conhece o seu filho, qualquer mudança, por mais sutil que seja, será percebida. O problema é quando começa a primeira fase da adolescência, em que os indivíduos começam a se fechar e custa entrar no mundo deles. Também é nessa fase que as mudanças são mais problemáticas, já que é uma etapa do desenvolvimento humano que, por si só, é muito frágil, inclusive confusa, propícia ao aparecimento de doenças mentais.

A Plateia: Uma criança pode se transformar, de uma hora para outra, em um ser frio e calculista, mesmo com seus genitores?
Cinthya: Tudo na vida é um processo, porém, existem alguns que se desenvolvem de maneira silenciosa, dificultando a percepção, gerando “surtos”. Por isso que, às vezes, nos assustamos com fatos tão imprevisíveis. Pode ser que as mudanças sejam tão sutis que os adultos não consigam ou não queiram perceber. Devemos lembrar que nossos filhos são nossos sonhos e projetos, quando eles são questionados, estamos questionando a nossa paternidade, e é por isso que alguns adultos custam a perceber os desajustes dos seus filhos.

 

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1 Comentário

  1. pedico86

    Em nenhum estudo até agora realizado há consenso sobre a associação entre a violência e obras de ficção, incluindo livros, séries de televisão, filmes e jogos. É uma falácia associar um objeto de entretenimento de milhões de pessoas, todos os dias, em todo o mundo, com ações individuais e que ainda estão sendo esclarecidas.

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