Combate: fogo cerrado na Câmara

Manifestações evidenciam clima de ânimos acirrados

“… não fique nervoso. Olha o coração, vereador…” Lídio Mendes.

A sessão de ontem, na Câmara, era esperada. Por vários motivos, inclusive para que a comunidade conhecesse como repercutiram os recentes acontecimentos na área política local. A declaração de guerra entre situação e oposição ocorreu há algumas semanas (no episódio da não aprovação do pedido de empréstimo que o Executivo queria fazer ao BNDES, via Banrisul, para comprar máquinas – retroescavadeira, caminhão, etc).

Os combates que se seguiram foram ao estilo guerrilha, com manifestações breves, pedidos de informações, visitas fiscalizatórias em logradouros públicos. Até aí, nada que evidenciasse o clima de antagonismo que estava pairando, pronto para se tornar público.

Ontem, isso mudou.

Quando os oito vereadores de oposição procuraram o Ministério Público para protocolar um pedido para que a promotoria investigue o que determinaram como “indícios de corrupção na administração pública”, chegou ao fim o pavio. Explodiu o clima de contenda. Fogo cruzado trocado, sem chance de armistício. Pelo menos por enquanto. A artilharia teve continuidade ontem, na tribuna da Câmara, durante a sessão ordinária.

A calmaria que pairava durante a leitura do expediente pelo secretário Jansen Nogueira (PT) evidenciava a tensão. A repercussão da denúncia e as menções a envolvimentos de outros legisladores começou a ser, efetivamente, visível.

A partir de agora, uma síntese dos principais pontos da sessão ordinária. 

Jason abre fogo 

“O politico é apresentado por Max Weber como um grande empreendedor, com empregos de toda espécie, que são distribuídos pelos chefes partidários pelos bons e leais serviços prestados. Aí, vêm os conflitos” Jason Flores.

O vereador Jason Flores (PMDB) não se conteve e abriu as baterias contra o colega Lídio Mendes, o Melado (PTB). “Senhor vereador Lídio de Azevedo Mendes, eu não sei quantas pedras vossa excelência conseguiu pegar lá na Secretaria de Saúde hoje. Foi tentar conseguir pedras para atirar neste vereador, foi tentar conseguir argumentos acerca do meu irmão. Gostaria que explicasse. É fácil falar para microfone. Eu não tenho medo de vossa excelência. Eu sou pequenininho, mas sou macho de verdade, graças a Deus. Não tenho medo de vossa excelência, sempre respeitei e terá meu respeito, mas não aceito inverdade, como vossa excelência foi falar no rádio, ontem. Fale a verdade, vereador! Quero ouvir vossa argumentação. Quero dizer ao nobre Dagberto Reis, meu presidente, que as manifestações no Brasil, no RS e em Livramento, foram por causa da arbitrariedade, da ilegalidade e do descrédito dos políticos. Gostaria que vossa excelência me respondesse, se diminuíram os cargos CCs, quantos apadrinhamentos tem. Quantos o senhor indicou como motorista na Secretaria de Saúde? Pessoas que o senhor teve que esperar que tirassem carteira de motorista, porque eram do seu partido. Pode até não ser verdade isso, mas gostaria de sua manifestação e que discutissem o mérito, pois tem que entrar por mérito, não por apadrihamento no serviço público” – arguiu o peemedebista.

O líder do PMDB disparou: “Vereador Melado, humildade não quer dizer que a pessoa tenha que agachar a cabeça e dizer sim para o que é errado” – disse.

“Acredito no nosso governo” Itacir Soares.

“O meu partido, PMDB, não se trocou por cargos no governo. Concernente a meu irmão, tinha o direito legal de ter começado em janeiro e chamaram ele em março. Teria que falar mais algumas coisas, Fabrício (dirigindo-se a Fabrício Peres da Silva, secretário de Administração, que estava na assistência). Gostaria que respondesse se é moral seu irmão trabalhar no DAE (referindo-se ao diretor administrativo Fábio Peres da Silva), pode ser legal” – referiu.

O secretário fez uma manifestação da assistência, contraponto Flores, porém, foi contido pela fala do presidente da Câmara, salientando que é vedada a participação da assistência. 

“Inimigos de hoje…” 

“Lógico que tenho que falar. Não como diz “Marke Eber” ou o Raimundo sei-lá-o-quê. Eu falo como dizia Sebastião de Almeida Gomes: nossos inimigos de hoje, nossos aliados no amanhã. Pregam moralidade, mas tem uma coisa importante. Fomos eleitos para respeitar o povo sofrido lá fora. Meu jeito de falar sempre foi esse. Tem tentas criancinhas que me amam e me adoram nas vilas e tem uns marmanjões que têm medo. Não precisa ter medo de mim, não sou bicho, não sou lobisomem. Sou cidadão. Nunca briguei com ninguém, nunca discuti, mas aqui dentro, discuto. Pisa no meu pé, tem que ouvir” – retaliou Melado.

“Denúncia de nepotismo é nuvem de fumaça para desviar atenção” Xepa Gisler.

“A maioria aqui foi governo. É fácil criticar. Não precisa gritar. Meu jeito de falar é alto, é meu jeito, meio bagual” – disparou.

“Falar em humildade, vereador Jason, não fique nervoso. Olha o coração, vereador. Faz seis meses, o senhor está começando. Veio aqui, pregou a paz, não vamos brigar. Falou aqui. Eu disse ao senhor que a paz ia durar pouco. O senhor me atacou na esquina e disse: ‘andei pesquisando, seu irmão trabalha na Prefeitura, desde o tempo do Wainer’, e eu disse que sim. Aí o senhor disse: ‘pois é, o meu também, isso não é nepotismo, mas a vereadora Carine vai à justiça, denunciar o senhor’. Falou de sua própria colega, seu partido e vem pedir humildade. O que falei está falado, está dito e não volto atrás. Meu irmão trabalha desde o tempo do Wainer, se a Justiça achar que está errado, põe para fora” – reforçou.

“Temos que parar com a picuinha. Tem gente precisando, vamos criar vergonha na cara e trabalhar. Antes de falar, temos que olhar para nosso rabo. Se falo é porque não tenho rabo preso. Ah… o ego é maldito. Se ofendi, peço perdão. Pode me bater, mas temos que trabalhar juntos por Sant’Ana do Livramento“- concluiu o vice-presidente da Câmara.

“Não pessoalize, vereadora Tatiane Marfetan” Galo Del Fabro.

 O vereador Luiz Itacir Soares (PT) não discorreu sobre o tema central dos debates, preferindo falar sobre outros assuntos de seu mandato, e fez a defesa do governo, dizendo que acredita na atual administração. “Acredito no nosso governo” – defendeu Maurício Galo Del Fabro (PSDB). Ele fez uma série de ponderações, pontuando questões pertinentes a cada vereador, chamando atenção para as ausências dos legisladores, que não participaram da sessão legislativa que reprovou o pedido de empréstimo de R$ 3 milhões, encaminhado pelo Executivo. “Não temos nada a ver com a qualificação dos cidadãos, currículo não explica nepotismo e nem moralidade. Vamos aguardar: o Ministéri0 Público vai investigar e ponto. Esse é meu papel, fiscalizar e agora vamos aguardar. Temos que acabar com esse mal, segundo disse a promotora Rosi. Ficou claro” – concluiu sugerindo o fim da “antiga política”.

 

A tribuna como trincheira

Aquiles Pires: “estou triste com os vereadores novos”

A vereadora Tatiane Marfetan (PTB) disse que iria passar a palavra ao colega Xepa, porém pronunciou uma frase. “Eu vou passar a palavra ao Xepa, mas antes, vereador Galo, cuide de sua vida, no momento em que não estava presente, fiz requerimento à casa” – disse, sendo interrompida pelo presidente da Câmara, alertando sobre a improcedência do ato, já que ela declinara de usar a palavra. Simultanteamente, Galo Del Fabro respondia: “Não pessoalize, vereadora, vamos fazer política nessa casa”, ao que a legisladora dizia, em simultâneo: “Vereador Xepa, passo a palavra, vereador Xepa”.
Maurício Galo Del Fabro tornou a repetir: “Não pessoalize”. ”Cuide de sua vida, que eu estou falando. Me respeite” – tornou a petebista. O presidente apelava a ambos para evitar o bate-boca. “Isso é falta de decoro, presidente” – disse Galo. “Com a palavra o vereador Xepa, por dez minutos” – finalmente, conseguiu anunciar Dagberto Reis.
Nesse ínterim, Germano Camacho (PTB), fazendo uso de questão de ordem, disse que o vereador que vai para a tribuna não pode direcionar a palavra para outro vereador ou para alguém que está na plateia, “senão dá direito da pessoa retornar aquela palavra a quem está na tribuna”. Ressaltou, dirigindo-se ao presidente, que a tribuna deveria ser usada para o fim específico. “É cumprimentar os colegas e falar naquele assunto. Se ele direcionou a palavra para qualquer popular na plateia, secretário ou não, vai dar o direito à pessoa responder àquele questionamento” – concluiu.

Denúncia caluniosa

Dagberto Reis, na tribuna, responde ao colega Jason Flores
“Quer me tolher o direito de indicar, vereador?”

Gilbert Xepa Gisler (PDT), líder do governo, voltou ao assunto da alegada ausência na votação do pedido de empréstimo feito pelo Executivo (rejeitado pela oposição, há algumas semanas). “Não foi rejeitado um empréstimo, foi rejeitada a recuperação das estradas rurais de Livramento. Não querem estradas. Vereador Galo, tá aqui. Foi publicado segunda” – disse, segurando um documento. “Autoriza a transferir recursos aos municípios para implementar os projetos prioritários do governo” – disse, salientando que o documento era a autorização da Secretaria de Saúde do RS para transferir recursos do Fundo Estadual da Saúde para o Fundo municipal. “Sant’Ana do Livramento, 707 mil reais. Esse vereador e a vereadora Maria Helena estavam em Porto Alegre, buscando recurso, que havia sido perdido. Está aqui a recuperação. Por isso estávamos ausentes da sessão daquela trágica quarta” – atestou.
Gisler discorreu sobre o conceito de nepotismo, apontando a existência figura legal da denúncia caluniosa. “Todo aquele que faz acusação e movimenta a máquina do judiciário corre o risco de cometer o delito de denunciação caluniosa. Afora o prejuízo político, terá que arcar com as consequências cíveis e criminais” – disse. Disse que a nomeação de sua filha para a função de procuradora do Sisprem não tinha sua influência.

“Meu papel eu fiz. Vou aguardar o Ministério Público. Ponto. Não tenho mais o que falar sobre isso” – disse o vereador Carlos Nilo Pintos (PP), usando a comunicação de liderança, logo após discorrendo sobre seu trabalho no mandato.
Após, Galo Del Fabro, usando o mesmo expediente, respondeu para Tatiane Marfetan. “Não cuido da vida pessoal de ninguém. Cuido dos atos e fatos políticos que acontecem na casa do povo, importantes para nossa sociedade” – disse.

Descontração

Sessão foi concluída com a situação e o presidente Dagberto Reis, pois a situação se retirou do plenário

O vereador Danúbio Barcellos (PP) tentou descontrarir o clima, e propôs falar de coisas boas, usando de ironia. “Vou falar de mim, que ganho mais. Nesses seis meses como vereador, vou falar do que consegui fazer” – disse. “Não deveríamos trazer fatos repudiantes, que enojam a população. Estou aqui para defender uma família, a ética, e jamais vou fazer com que meu nome seja denunciado, repudiado. Não estou aqui por dinheiro. Na rádio RCC FM eu ganho muito mais” – disse. “Jamais ofendi ou tentei desestabilizar ninguém” – abordou, e dirigindo-se a Germano Camacho, afirmou que não seria intimidado.
Em alguns momentos, durante a comunicação de liderança, o plenário começou a esvaziar. A sessão, surpreendentemente, foi concluída sem a presença dos vereadores de situação.
Permaneceu apenas o presidente Dagberto Reis que, em determinado momento, até cogitou se retirar, para acompanhar os situacionistas, porém, por dever de ofício, não é permitido que isso ocorra.
A alegação para a retirada em massa da bancada de situação foi não ouvir mais as trocas de farpas.
A oposição, os 8 vereadores, permaneceu até o término da sessão ordinária.

“Nós nos elegemos dizendo que iríamos fazer uma legislatura diferente, sem aqueles artifícios dos políticos que acabaram enterrando nossa cidade” – disse Aquiles Pires (PT). “Fui candidato e sou vereador por isso, porque quero trazer coisas novas para Livramento, quero fazer uma política com seriedade e quero esquecer aquilo que se fazia. Mas estou triste com os vereadores novos, que se elegeram com essa proposta, e seguem o mesmo trilho” – disse, pedindo que houvesse uma reflexão. Pires cedeu dois minutos do seu tempo para o colega Daberto Reis.
Passando a presidência para o vereador Lídio Mendes, Reis disse que tinha ido à tribuna para responder ao vereador Jason. “Pelo amor de Deus, vereador, o que está acontecendo? O senhor quer, agora, interferir nos partidos políticos. Eu participei em todos os momentos da vitória do meu partido, da construção do programa de governo que levou o PT e o PSD à vitória. Estou há 12 anos no Partido dos Trabalhadores. Agora, meu partido ganha e não tenho o direito de indicar. O senhor quer me tolher o direito de indicar alguém para o governo? O senhor não indicaria? Faço parte do partido e de uma corrente interna. Quem indicou foi minha corrente interna, a unidade na luta. Sou uma liderança do partido e o senhor quer me tolher o direito de indicar. Assim como tem cargos de confiança, tem contratos emergenciais, o senhor não quer que eu indique alguém” – bradou. Em tom de voz ainda mais alto, complementou: “denuncie, vereador, denuncie. Tenha a coragem de denunciar, agora não diga inverdades na tribuna. Não lhe dou esse direito, vereador Jason, sempre lhe respeitei. Não faço indicações à revelia do meu martido. O senhor me respeite, vereador Jason, que eu sempre lhe respeitei”- pontuou.
Após a manifestação, ocorreu a votação da ordem do dia, com debates pontuais sobre projetos de lei.

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