Um centenário de história e de glória

Os colorados santanenses têm muito o que comemorar nesta terça-feira, 11 de junho. Hoje, o alvi-rubro comemora seus 100 anos de fundação.

E é dia de festa. Uma festa em vermelho e branco. O velho Colorado da Vila Honório Nunes completa 100 anos e, mesmo fora dos gramados, é festejado por todos: torcedores, simpatizantes ou apreciadores do futebol, como se vivesse seus áureos tempos, quando a cidade parava para ver o time vencer um Gre-Qua pelo Citadino, nos anos 1950 0u 1960, ou receber a dupla Gre-Nal pelo Campeonato Gaúcho, como ocorreu nos anos 1990.

O Grêmio é assim. Vive entre saídas estratégicas de cena, para retornos retumbantes e avassaladores. Os caras pintadas, que viram o time pela última vez em campo em 2002, aguardam ansiosos o fim desta pausa e o retorno do clube, como ocorreu em 1985, quando começou modesto e acabou na elite do futebol gaúcho, em 1991, sob o comando do patriarca Hélio Dutra e seu filho, Luis Paulo, último presidente, em quem a torcida deposita toda a confiança de ver, novamente, o Grêmio nos gramados.

Mas a geração caras pintadas, torcida símbolo do clube na sua recente história, pouco sabe da real história do clube ao longo deste quase um século de trajetória, títulos e feitos, que o tornaram um dos grandes clubes do futebol gaúcho.

Time campeão estadual de 1937

História e histórias…

Campeão Gaúcho da 3ª Divisão – 1967

O grêmio Santanense foi fundado em uma segunda-feira, no dia 11 de junho de 1913, por um grupo de jovens santanenses que costumava se reunir na Barbearia do Ladário. Porém, os documentos da fundação e dos primeiros anos do velho Colorado se perderam em um incêndio em 1919, na residência do então secretário do clube, Joaquim Sanz, que guardava toda a documentação relacionada ao clube.

Sua casa é o Estádio Honório Nunes, que recebe este nome em homenagem ao presidente da gestão de 1915. Honório Nunes, quando esteve à frente do clube, superou inúmeras dificuldades para manter o Grêmio Santanense, em seus primeiros anos de existência. Deste então, a presença do patrono é constante na vida do clube.

É a equipe mais vitoriosa de Sant’Ana do Livramento a nível estadual, e entre seus triunfos constam o maior título do Estado, o Campeonato Gaúcho de 1937. Também foi vice-campeão em 1939 e 1948.

Foi vice-campeão do Campeonato Gaúcho 2ª Divisão em 1991, Campeão e vice-campeão do Campeonato Gaúcho 3ª Divisão, em 1967 e 2000, respectivamente.

O uniforme do Grêmio Santanense possui as cores alvi-rubra como as do Internacional e o nome Grêmio como o do Grêmio de Porto Alegre, as duas equipes mais importantes do Estado.

Time de 1993, que disputou a 1ª divisão

Graças a muitos de seus jogadores e diretores, conseguiu, através de campanhas dignas em toda sua história, fixar a marca inconfundível, com forte identidade no Estado. O detalhe da camisa vermelha com as mangas brancas o diferencia de todos os outros times alvi-rubros do Rio Grande do Sul.

Depois de algumas boas campanhas nos anos 90, na Primeira Divisão Gaúcha, caiu para a Segunda Divisão em 1999, tendo um fraco desempenho no ano seguinte, caindo para a Terceira Divisão Gaúcha. Voltou para a Sugunda Divisão em 2001, permanecendo até o ano de 2003, quando desistiu de competir, encerrando as atividades no futebol profissional. Em 2009, voltou a participar de competições municipais de futebol amador, sete e futsal.

Em 11 de junho de 2012, dia em que completou 99 anos, a Câmara de Vereadores de Sant’Ana do Livramento realizou uma cerimônia para abrir a contagem regressiva do centenário do clube, colocando em discussão a volta do colorado santanense ao profissionalismo. O evento contou com a presença de dirigentes e torcedores.

 

Santanense: Campeão Rio Grandino de 1937

Sem a participação dos grandes da Capital, Grêmio Santanense e Rio-Grandense chegaram à decisão depois de passarem, respectivamente, pelo Ferroviário de Bagé e Novo Hamburgo.

A decisão era para ser em uma melhor de três partidas, mas foram necessárias quatro entre Grêmio Santanense e Rio-Grandense, para se conhecer o campeão.

No primeiro jogo, em Rio Grande, deu Rio-Grandense 2 X 0. Depois, em Pelotas, houve um empate de 3 X 3 e vitória do Grêmio Santanense de 3 X 2. O título chegou em Bagé, com a goleada de 4 x 0. Todos os jogos ocorreram em janeiro de 1938.

O time base do Grêmio F.B. Santanense, no Campeonato Gaúcho de 1937, era este: Brandão – Alfeu e Seringa – Garnizé – Mascarenhas e Pepe Garcia (Pasqualito) – Sorro – Beca – Bido – Hortêncio Souza e Tom Mix. Técnico: Ricardo Diaz. 

A cor do dinheiro

Na decisão de 1937, entre Grêmio F.B. Santanense X F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande, a divisão da renda mostra claramente os exageros da Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD), naqueles tempos. A decisão foi em campo neutro, no estádio Estrela D’Alva, em Bagé , perante 3 mil expectadores. A renda somou 8 contos de réis (na época uma boa casa custava 20 contos de réis). Do total, 30% foi para o campeão, 20% para o vice e 50% para a FRGD. (Fonte: Gauchão, a história ilustrada de uma tradição).

O zagueiro do general

O governador Flores da Cunha queria um título para a Fronteira: mandou chamar o zagueiro Alfeu.

A baixa estatura para zagueiro e o jeitão descansado enganavam quem não via Alfeu Cachapuz Batista em campo. Mas não o general Flores da Cunha, ex-governador do Estado.

O uruguaianense Flores da Cunha queria um título gaúcho para a região da Fronteira, e para isso mandou uma expedição de avião – uma aventura naquela época – levar para o Santanense o zagueiro negro que estava no Inter, emprestado pelo Guarany de Bagé.

Alfeu, de fato, ajudou seu novo time a ganhar o campeonato de 1937. Depois, foi jogar no Santos, de onde Ildo Meneghetti o trouxe de volta ao Inter, em 1940. Somando o título pelo Santanense com os que conquistou pelo Inter, hexa de 1940 a 1945 e bi em 1947 e 1948, Alfeu foi nove vezes campeão gaúcho.

Além de apoios como o do general Flores da Cunha, o Grêmio Santanense pôde contar, em 1937, com muito dinheiro para montar o time campeão. As contribuições saíam do bolso dos prósperos produtores rurais da região e também do Cassino “A Caverna”, de onde parte das apostas na roleta era separada para o clube. Com essas garantias, o Santanense contratou até um técnico uruguaio, Ricardo Diaz.

Vasco em Pelotas e Livramento

Em um evento inédito, em 12 e 16 de outubro de 1949, o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, realizou dois jogos amistosos no Rio Grande do Sul (Sant’Ana do Livramento e Pelotas). As rendas foram de 130 mil cruzeiros e de 160 mil cruzeiros, respectivamente, sendo recordes no interior de nosso Estado até aquele tempo.

Foram acontecimentos desportivos extraordinários e muita gente rumou às duas localidades para apreciar a então invencível esquadra cruzmaltina. Em Livramento, o árbitro foi Gilberto Martins e, em Pelotas, Osvaldo Rolla (Foguinho, da Federação Gaúcha).

No primeiro jogo, Vasco da Gama 3 X 1 Combinado Santanense (formado por atletas do 14 de Julho e do Grêmio Santanense). Fiorelli marcou para os gaúchos. Heleno de Freitas, Ipojucan e Danilo Alvim, para o Vasco. Dias depois, em Pelotas, Vasco 3 X 2 E.C. Pelotas 2. Os três gols vascaínos foram marcados por Ipojucan).

Nos dois amistosos, o Vasco da Gama utilizou os seguintes jogadores: Barbosa, Augusto, Laerte, Wílson, Ely, Alfredo, Danilo, Tão, Nestor, Ademir Menezes, Maneca, Ipojucan, Heleno de Freitas, Lima, Chico e Mário.

“Tudo por amor ao Grêmio Santanense”

O presidente Nizio (em pé, à direita), o Edson Ávila (levantando a taça), e o treinador Antônio Fierro (6º em pé, à esquerda)

As boas lembranças são o grande tesouro dos colorados santanenses, que relatam com grande orgulho os feitos do clube. Um dos personagens que lembra com muito carinho da história do Grêmio Santanense é o ex-presidente Nizio Cursino dos Santos, que esteve à frente da agremiação nos anos de 1966 e 1967.

O então presidente, Nizio Cursino dos Santos (à esquerda), recebendo o troféu da Divisão de Acesso das mãos de Evaristo e Nery Savi, em representação à Federação Gaúcha de Futebol

Dentre as grandes conquistas deste período, merece especial destaque o título de campeão da Divisão de Acesso. “Naquela época, era mais fácil fazer futebol. As empresas apoiavam. Lembro que tínhamos como dirigente o atuante Bento Apoitia, que trabalhava na busca por patrocínios; a empresa Ferrão, que sempre nos disponibilizava transporte; além de importantíssimos apoiadores, entre eles, a Casa Salim, Sayon, Brisolla, hotel Palace, Juarez Lezama, o médico Getulio Elvanger Neves, que prestava serviço ao clube de forma gratuita, entre tantos outros colaboradores, que sempre estavam dispostos a colaborar com o Colorado Santanense”, explicou o ex-presidente.

Sua melhor lembrança é a convivência entre dirigentes, comissão técnica, jogadores e torcedores. “Havia honestidade, caráter, não se jogava apenas por dinheiro, mas principalmente por amor à camiseta”, salientou.

Hoje, destaca ele, sente muitas saudades dos tempos áureos. “Sempre fui gremista santanense e quando surgiu a oportunidade de servir ao clube, não hesitei e aceitei presidir a agremiação. Não economizei esforços e dediquei-me a fazer uma boa administração. Tudo por amor ao Grêmio Santanense”, concluiu.

atualidade

Colorados defendem as cores do santanense nos gramados e quadras 

Apesar de se encontrar licenciado do futebol profissional, o Grêmio Santanense ainda brilha pelos gramados e quadras de Sant’Ana do Livramento. Um grupo de colorados mantém equipes que disputam anualmente o Campeonato Amador, bem como um selecionado, que atualmente representa o alvi-rubro no Campeonato Citadino de Futsal – categoria Sub-18, e que estará entre os times que disputarão o título do Citadino de Futsal 2013 – Força Livre, promovido pela Arena Sports.

Dentre esses colorados leais, estão integrantes da torcida Caras Pintadas, cuja coordenação está a cargo de Jorge Luis de Souza.

 

Gramado continua sendo palco de eventos esportivos 

O estádio de Honório Nunes, apesar de não abrigar jogos do futebol profissional, não está com seus portões fechados. Dentro do possível, os colorados realizam a sua manutenção, principalmente do gramado, que, por vezes, recebe eventos esportivos, como o caso da Copa Barcelona/Via-Expressa de Futebol Master, promovida pela Liga Independente Master, aos sábados.

 

 

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