Comoção e revolta marcam velório dos taxistas assassinados na Fronteira

Profissionais paralisaram as atividades em protesto, pedindo que justiça seja feita e caso seja esclarecido com a maior brevidade possível

Boa parte dos táxis da cidade deixou de rodar durante a quinta-feira, em sinal de protesto pelas mortes dos três taxistas

Uma madrugada de terror, de breves estampidos e do rompimento definitivo com uma série de vínculos, através das balas que acertaram as cabeças de três trabalhadores. Ao deixarem as suas famílias para buscar o sustento atrás do volante dos táxis que dirigiam, eles foram ao encontro da morte.

O silêncio quase ensurdecedor tomou conta da cidade, acordada bruscamente com a notícia que em poucas horas transcenderia os limites do município e ecoaria em boa parte do território nacional: três taxistas foram mortos quase simultâneamente em Livramento. 

Corpos jogados ao chão 

Na Prefeitura, o velório de um dos três taxistas chamou a atenção de quem cruzou pelo centro, na tarde de quinta-feira

Pouco antes das 7h, o telefonema para a redação da rádio RCC FM dava conta de que algo muito estranho estava prestes a ser descoberto. Eram 7h50, e um dos repórteres anunciou que a Brigada Militar havia encontrado o corpo de um homem, com um tiro na cabeça, nas proximidades do Lago Batuva. Poucos minutos depois, quando a vida ainda parecia que seguiria seus ares de normalidade, embora as autoridades já atendessem à primeira ocorrência, um novo chamado, um novo caso, um novo crime. O intervalo de tempo de pouco mais de meia hora separando um caso do outro começava a chamar a atenção dos policiais, que, até então, tratavam o primeiro caso como isolado.

A confirmação dos nomes, o anúncio aos colegas de profissão e comunicado às famílias foram tarefas árduas para aqueles que tiveram a missão de levar o relato, e dizer que o fato entraria para a história da cidade pela brutalidade, frieza, rapidez e sincronismo com que aconteceu. 

Inimaginável 

“Nunca vi algo assim acontecer em toda a minha vida. Já vimos esses fatos ocorrerem em diversas cidades do Brasil e do mundo, ou até aqui mesmo no Estado e em Livramento, mas geralmente eram casos isolados. Assim, com três companheiros mortos de uma só vez, nunca havia visto. É muito triste”. As palavras, em tom já sereno, embora sem consolo, foram ditas por Artur Menna Garcia, 60 anos, e um dos mais antigos profissionais taxistas que atuam na cidade.

Com os olhos marejados, visivelmente abatido e emocionado com a perda dos três colegas, ele era o reflexo puro da tristeza que tomou conta de uma categoria que está acostumada a circular pelas ruas, fazer amigos e, em cada corrida, levar sempre pessoas cujos destinos acabam, inegavelmente, se cruzando. Para o profissional que conhecia as três vítimas, assim como para os demais colegas, a busca agora é por justiça, para que tudo seja esclarecido, em memória dos trabalhadores e de suas famílias. 

Frota na garagem 

Durante toda a manhã de quinta-feira, os sinais de rádio dos carros da frota que atua junto às cooperativas, ficaram calados. Ao recusar cada uma das corridas, os clientes eram informados de que, em sinal de protesto, todos os veículos foram recolhidos e não aceitariam pegar passageiros por tempo indeterminado. A ação inédita mostrou a força exemplar de uma categoria inteira, que agora chora e lamenta a perda de três dos seus integrantes.

Carros das duas empresas que atuam no sistema de rádio-táxi ficaram estacionados e a conversa entre os motoristas era apenas uma: “O que teria ocorrido? Por que foram mortos os três trabalhadores assim? Qual a ligação entre os três casos?”.

Quem passou pela rua Thomaz Albornoz, onde fica a central de uma das empresas, se surpreendeu com a quantidade de carros estacionados e, logo, questionou o motivo da paralisação. Não tardou muito para a notícia preencher os noticiários de todas as rádios, se esparramar pelas redes sociais e atingir em cheio toda a cidade. A manhã, que havia começado de forma estranha, ganhava, na paralisação, um elemento a mais no complexo quebra-cabeças que se transformou a morte dos três taxistas. Unidos, os companheiros pressionaram autoridades, acompanharam de perto os primeiros passos das investigações e contribuíram, da maneira como entenderam, em silêncio ou em breves observações, com alguma coisa que talvez pudesse ajudar a elucidar o caso, que já entra para a história policial de Sant’Ana do Livramento, pelas características peculiares.

Um pedido de justiça 

O dia, apesar de assistir a uma cidade cheia de turistas, ficou bruscamente silencioso, vendo apenas poucos táxis rodando pela cidade, especialmente no período da tarde. Profissionais acostumados a manter a comunicação pelo rádio, na quinta-feira pararam e conversaram longamente. Melhor teria sido se a conversa fosse sobre futebol, os problemas da cidade em que vivem e tão bem conhecem, porque não se cansam de trafegar por suas ruas.

Ao invés disso, o assunto era um só e, em meio a todas as conversas, o ar de revolta, o pedido de justiça a esperança de que o caso seja logo elucidado. Para os profissionais que trabalham diuturnamente enfrentando os desafios da profissão, justiça é, agora, a palavra de ordem. Em uma árvore em frente à Prefeitura Municipal de Sant’Ana do Livramento, local onde o corpo de um dos taxistas foi velado durante toda a noite, um cartaz continha frases que pediam justiça e um recado: “Nunca os esqueceremos”.

Mensagem aos amigos 

“Tudo o que se vá falar agora não terá efeito nenhum, principalmente para os familiares. A gente, que conviveu com eles, agora espera que seja feita justiça. Fica aí o nosso sentimento, a nossa raiva, angústia e a esperança de justiça”.
Sandro de Moraes, 40 anos, taxista há 4 anos

 

 

 

 

“Esperamos que a justiça seja feita. Agora, os profissionais que estão na rua precisam de apoio e mais segurança para que esses casos não voltem a se repetir em nossa cidade”.
Carlos Eduardo Bionafé, 31 anos, há 8 meses na profissão

 

 

 

 

“De minha parte, só fica o pedido de justiça, porque esses três colegas estavam trabalhando e agora restam famílias desamparadas. Nesse momento, não há muito o que dizer, porque sabemos que as
palavras não confortam”.
Cristiano Silva Martins, 29 anos, há 2 anos e meio de profissão.

 

 

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