Integrante do Grupo de Repressão ao Crime Organizado treina agentes da PF

O policial federal Gerson já participou de várias operações arriscadas, inclusive da recente retomada do Complexo do Alemão

“Um dos momentos mais marcantes foi, sem dúvida, quando o helicóptero da Polícia Civil do RJ colocou a bandeira do Estado do RJ e a bandeira do Brasil na base do bondinho instalado no topo do morro”

Agentes da Polícia Federal de Livramento participaram, recentemente, de um treinamento de progressão em áreas de risco e tomada de edificações com instrutores integrantes do Grupo de Pronta Intervenção-GPI, da Polícia Federal, na capital do Estado. Entre eles, o agente da PF, Gerson Remião Lapis, de 40 anos, que atualmente atua no Grupo de Operações da Delegacia Regional de Repressão ao Crime Organizado e no Grupo de Pronta Intervenção na Superintendência Regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul.

 

Durante entrevista exclusiva ao jornal A Plateia, o policial federal Gerson contou que, junto com os demais integrantes do GPI, já participou de várias operações arriscadas, inclusive da recente retomada do Complexo do Alemão. O agente já foi militar do Exército e possui diversos cursos na Polícia Federal na área de Inteligência Policial, além de cursos como Combate em Área Restrita – COT/Brasília, Curso de Técnicas de Intervenção – COT/Brasília e Curso Operações Marítimas no DEPOM/RJ (Delegacia Especial de Polícia Marítima no Rio de Janeiro). 

Treinamento Tático

A Plateia: O que é o Grupo de Pronta Intervenção da Polícia Federal?

Policial Federal: O GPI é um grupo de Ações Táticas, e é treinado para realizar buscas e apreensões em situações de maior risco, cumprir mandados de prisão, efetuar incursões em comunidades localizadas em locais conflagrados como favelas (Patrulha Urbana), em confrontos com manifestantes onde o uso da força seja necessário (Controle de Distúrbios Civis) e transporte de presos perigosos, nos quais poderá ocorrer a tentativa de um resgate.

A Plateia: De onde surgiu esta necessidade de preparar agentes no interior do Estado?

Policial Federal: Desde a criação do Grupo, há dois anos, tivemos a ideia de multiplicar esse conhecimento adquirido durante o tempo com os demais colegas, nas diversas delegacias do Estado. Quando viajamos para o interior para cumprir as mais diversas missões, sempre que é possível, tentamos passsar um pouco dessa experiência.

A Plateia: Este treinamento realizado em Livramento também está sendo realizado em outras cidades do Estado?

Policial Federal: Não existe um pré-agendamento a esse respeito, porém, a ideia é, na medida do possível, levar a todos esse conhecimento.

A Plateia: A partir deste treinamento, em que situações poderão atuar estes agentes policiais?

Policial Federal: Quero ressaltar que os conhecimentos trazidos e treinados com os colegas do interior se destinam ao cumprimento de tarefas que eles já realizavam. Porém, com esses conhecimentos, eles poderão cumprir tais tarefas com mais segurança, e com isso obterem melhores resultados.

A Plateia: Qual a média de tempo utilizado para esta capacitação?

Policial Federal: Utilizamos dois dias de instrução, com algumas horas de teoria e a maior parte do tempo na prática.

Complexo do Alemão

 

A Plateia: Em que situação o senhor atuou na tomada do Complexo do Alemão?

Policial Federal: O Grupo atuou, em um primeiro momento, no cerco ao Complexo do Alemão, efetuando barreiras em algumas vias de acesso ao Complexo. Como havia várias forças de segurança envolvidas no local, as demais vias foram tomadas por outras forças. No dia “D”, fomos a terceira equipe a tomar o Complexo, subindo logo atrás do BOPE/RJ (Batalhão de Operações Especiais da PM do RJ) e do COT/DPF (Comando de Operações Táticas da PF de Brasília).

 

A Plateia: Como foi a preparação para esta mega operação?

Policial Federal: Estávamos formados no CTI (Curso de Técnicas de Intervenção), realizado no COT, há mais ou menos um ano, quando do planejamento da operação, o Comando do COT entrou em contato conosco e perguntou como estava o Grupo no que se refere ao treinamento de Patrulha Urbana. Como tínhamos um colega recém-chegado do curso CATI do BOPE/RJ, que havia nos passado todo o conhecimento adquirido lá, estavamos bem treinados, e com isso fomos convocados para aquela Operação tão importante para todos os brasileiros. Foi a maior operação de segurança pública já realizada no País.

A Plateia: Quais eram as principais preocupações da equipe durante a execução da operação?

Policial Federal: A principal preocupação da equipe era em relação ao terreno, que para nós era desconhecido. Pois além de conhecimento técnico e treinamento exaustivo, é preciso ter um conhecimento das peculiaridades do terreno. Porém, os integrantes do BOPE nos passaram todas as informações, antes e durante a ação.

A Plateia: Como foi feita a distribuição das principais informações sobre os traficantes, como fotos, e onde eles estariam?

Policial Federal: Como eram várias forças de segurança agindo juntas, mas cada uma com seu comando próprio, tivemos um pouco de dificuldade no momento de difundir informações, o que foi feito mais na prática, no momento da operação. Quando encontrávamos um suspeito escondido, procurávamos alguém das forças locais que tinham mais conhecimento dos meliantes do Complexo, como foi o caso do traficante ZEU, assassino do jornalista Tim Lopes.

A Plateia: A comunidade ajudou a Polícia com informações ou acabou privilegiando ainda mais os traficantes, com a lei do silêncio?

Policial Federal: A população cooperou totalmente com as forças regulares de segurança, indicou esconderijos de armas, drogas e até de criminosos que estavam escondidos. A população de bem não aguentava mais aquela situação de serem reféns dos traficantes. Aquele dia marcou a conquista da liberdade para aquela comunidade carente. Muitas pessoas nos agradeciam emocionadas enquanto subíamos a favela.

A Plateia: Quais foram os principais erros cometidos pelo grupo durante a ocupação e que terão que ser revistos em uma nova incursão desta importância?

Policial Federal: Como estávamos seguindo o BOPE do RJ, e havíamos treinado à exaustão, não cometemos erros naquela ação, pois sabíamos que se errássemos poeríamos pagar com a própria vida ou com vida de um colega. O grupo estava muito focado no cumprimento da missão, e graças a Deus e ao nosso esforço ocorreu tudo como o planejado.

A Plateia: Qual o momento mais marcante durante a operação, como policial?

Policial Federal: O momento mais marcante foi, sem dúvida, quando o helicóptero da Polícia Civil do RJ colocou a bandeira do Estado do RJ e a bandeira do Brasil na base do bondinho instalado no topo do morro. Aquilo foi um símbolo de nossa vitória e um recado para os demais grupos criminosos instalados na cidade do Rio de Janeiro, de que não iríamos mais tolerar aquela situação.

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