Agrotóxicos engrossam a lista de produtos ilegais que entram no País

Somente em 2012 foram 2.650 Kg de agrotóxicos apreendidos em Sant’Ana do Livramento, provenientes do Uruguai e outros países, segundo a Polícia Federal

Volume das apreensões de agrotóxicos ilegais na Fronteira superior duas toneladas em meia ao longo de 2012

Reduzir custos, burlar a legislação, incorrer em riscos desnecessários. Esses são apenas alguns dos itens que estão expostos quando o assunto é a entrada de agrotóxicos de forma ilegal no País.

Sant’Ana do Livramento, nos últimos anos, se tornou uma importante rota de passagem de produtos químicos, especialmente agrotóxicos, que acabam sendo utilizados, na maioria das vezes, sem orientação, nas lavouras em diversas partes do Rio Grande do Sul e em outros estados. Os incontáveis riscos à saúde estão todos praticamente escondidos nos frascos dos produtos, que acabam entrando no Brasil de forma ilegal e que, com uso indiscriminado, acabam indo parar nas prateleiras dos supermercados, misturados aos alimentos, alguns industrializados, e na mesa dos consumidores. O período mais quente do ano, época em que aumenta bastante o consumo de frutas, legumes e hortaliças em geral, é também aquele que causa maior preocupação, em função dos riscos que podem estar escondidos em alguns desses alimentos. O Brasil, país que ocupa lugar de destaque entre os países que mais consomem agrotóxicos no mundo, tem apresentado armas baseadas na difusão da informação correta entre os produtores, para que somente façam uso mediante a atuação de profissionais devidamente credenciados para tal atividade. 

Polícia Federal

“A compra de qualquer produto químico tóxico é considerada contrabando, ou seja, é proibida. Qualquer apreensão irá resultar em uma prisão em flagrante”. A afirmação foi feita pelo Delegado da Polícia Federal em Sant’Ana do Livramento, Alessandro Lopes, durante entrevista ao Jornal A Plateia, na tarde de ontem. Questionado sobre o trabalho que está sendo feito para coibir a entrada de produtos ilegais no Brasil através da fronteira com o Uruguai, o delegado disse que as operações deste ano resultaram em um número significativo de apreensões e a retirada de circulação de grupos que costumavam agir na região com o contrabando de agrotóxicos. “O produto vendido no Uruguai, por exemplo, é muito mais barato que o brasileiro. Agora, o que o consumidor não sabe, é que quando ele compra esse produto no Uruguai, na maioria das vezes, esse produto é importado da china. Esse material tem, entre seus componentes, ingredientes que são proibidos no Brasil, por serem altamente tóxicos. O princípio ativo, muitas vezes, nem é o mais grave, mas sim outros produtos que estão misturados a ele, chamados de incipientes. Geralmente, não se sabe que tipo de produto químico vem junto a esses agrotóxicos, e muitos deles já foram banidos no Brasil há anos”, afirmou o delegado Alessandro. 

Embalagens

Como se não bastasse apenas o problema que pode ser ocasionado pelo uso de agrotóxicos de forma ilegal, as embalagens acabam se tornando uma dor de cabeça tão grande, quanto. Material que, muitas vezes, tem procedência chinesa, de baixa qualidade e, por ser fruto de contrabando, não encontra locais para devolução em território brasileiro, acaba sendo enterrado nas propriedades e tem parte do líquido depositada em áreas mais profundas do solo, escorrendo assim para os lençóis de água. “Tem dois problemas com as embalagens. O primeiro, é que esse produto rompe com facilidade e isso acontece muito nas apreensões que fizemos, o que coloca a saúde de qualquer um em risco. Já aconteceu de caminhões tombarem perto de rios e ocasionarem grandes estragos.

O outro problema é que os produtos brasileiros têm a chamada logística reversa, ou seja, os fabricantes fazem a coleta das embalagens exatamente para dar a destinação correta para os resíduos. Agora, quando um sujeito compra esse produtos de forma ilegal, ele simplesmente enterra a embalagem e acaba criando um outro problema ao meio ambiente”, esclareceu o delegado da Polícia Federal.

Comprador, receptador, responsável

O delegado da Polícia Federal, Alessandro Lopes, crê na fiscalização como arma poderosa para combater o contrabando e alerta produtores sobre indiciamento, caso estes sejam flagrados como receptadores ou mandantes

Alessandro Lopes destacou, ainda, que entre as ações da Polícia Federal está a atuação junto aos produtores que costumam comprar agrotóxicos de forma ilegal. “Antes, os produtores vinham aqui na Fronteira, inocentemente, comprar esses produtos. Aí, acabavam sendo presos em flagrante. Se via que eram pequenos produtores, e mesmo assim acabavam detidos. Agora, os agricultores, alguns deles, deixaram de vir buscar, mas não de comprar os mesmos produtos. Então, foi criada aí uma organização criminosa especializada no contrabando de agrotóxico. Eles compram esses produtos em Rivera ou Artigas e os internalizam no Brasil, vendendo para outros que passam a revender aos interessados, ou seja, produtores rurais. Hoje, tem um grupo atuando nesse segmento, que utiliza carros financiados e tem relativo dinheiro e transportadores. Com as prisões de agricultores que fizemos há um tempo atrás, estes não vieram mais, mas o crime se instituiu de outra forma e organizada, especializada no contrabando de agrotóxicos. Diminui muito, mas esse pessoal ainda vem. Depois que deflagramos a operação Salamanca, em março, houve um aumento das vendas dos produtos nacionais no Rio Grande do Sul. Isso porque passamos a ir atrás também do produtor rural. Acredito que não adianta a gente querer combater o contrabando se tem um produtor que está fomentando o crime. Esse produtor rural, embora não venha em Rivera hoje comprar, ele, se pego, será igualmente indiciado. Caso se confirme que ele recebeu, encomendou ou comprou, será indiciado. Isso está no que comemos hoje, alface, maçãs, e estamos assim garantindo a segurança alimentar da nossa população. Outro problema que identificamos durante a investigação sobre esses agrotóxicos é que muitas vezes os produtores seguem orientação para uso dos próprios contrabandistas, e acabam usando doses muito maiores, oferecendo riscos proporcionais. As pessoas não têm a noção da gravidade do problema, mas é extremamente sério”, afirmou Alessandro Lopes.

Para o Irga, somente com orientação

Cesar Maciel, gerente regional do Instituto Rio Grandense do Arroz

O gerente regional do Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz, o engenheiro agrônomo Cesar Maciel, o órgão não faz recomendação específica de produtos. “Nós apenas orientamos como manusear ou utilizar da maneira mais correta possível. Não citamos marcas de produtos e quando detectamos o uso de produto não oficial, imediatamente deixamos de prestar assistência técnica e não assumimos a aplicação ou o resultado desta”, enfatizou Maciel. Ainda segundo o gerente regional do Irga, caso surjam problemas de fitosanidade, o órgão também se exime da responsabilidade, uma vez que não presta assistência a produtores que, porventura, venham a utilizar agrotóxicos contrabandeados. “Essa grande diferença que existe de preços praticados entre o Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, deve-se à utilização do princípio ativo em outros países”, disse. Ao ser questionado sobre os problemas eventuais que podem aparecer no caso do arroz, Cesar Maciel disse que, embora exista, o risco é um pouco menor, uma vez que boa parte dos resíduos se deposita na casca, que acaba saindo antes de o produto ser consumido pelos humanos. “Eventualmente, pode-se detectar, porque é muito complicado de conseguir identificar. Pelo processo industrial do arroz, não se detecta, porque o agrotóxico sai na casca, assim, o consumidor não corre muito risco. Agora, no caso da soja, é um pouco diferente, em virtude de o grão ser esmagado e o resíduo sair no óleo”, disse ele. Cesar Maciel disse que a orientação do Irga é sempre buscar assistência técnica e, se for usar, utilizar somente produtos licenciados”, afirmou Cesar Maciel. O ex-presidente da Associação Rural de Sant’Ana do Livramento disse, ainda, que houve uma redução substancial dos custos dos produtos no Brasil, o que acaba tornando vantajosa, para os produtores, a utilização correta. “Não vale a pena correr riscos com produtos contrabandeados e perigosos. Hoje, é insignificante o número de produtores que se atrevem a utilizar esses elementos, eles sabem do risco muito alto e que não compensa”, frisou Maciel.

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