Glauber Lima: conhecimento como vocação

Emotivo em alguns momentos, ponderado em outros, bem humorado, um buscador de intangíveis planos de conhecimento, vocacionado para o exercício de uma profissão que jamais pensou exercer, Glauber Gularte Lima mantém o cidadão agregado ao agente político. Nascido em Livramento, em 15 de abril de 1970, com dois anos de idade Glauber Gularte Lima mudou-se com a família para Esteio. Permaneceu na região metropolitana, entre Esteio, Novo Hamburgo e São Leopoldo, por 10 anos, pois a família migrou para lá em função de oportunidades de trabalho. A infância, na terra que sedia a Expointer, foi marcada pelas brincadeiras da época, pandorga, jogo de bolita, andar de bicicleta, futebol no campinho e estudo. “Eu era o rei do tombo, vivia caindo e pedia mercúrio para a mãe, porque mertiolate ardia muito”. O filho do pintor automotivo Malber Lima e da operária Aldair Gularte Lima diz ter sido uma criança normal, com um vínculo familiar muito forte, o mesmo ocorrendo em relação a sua irmã, Sandra. “Sempre ouvia meu pai falando da Fronteira, de Livramento. Toda vez que ele vinha, levava uma camiseta do 14 de Julho. Ele viveu a época de ouro da Fronteira e sempre teve desejo de retornar. Eu fiquei com isso, tanto que sempre falei que quando completasse 18 anos voltaria para Livramento. E voltei” – conta. O pai de Glauber foi considerado um dos melhores em sua profissão na época, tendo seguido o exemplo de Rosalino Lima, avô de Glauber, também pintor. “Já do meu avô materno, Otalício Gularte, herdei alguma coisa, pois ele foi um dos líderes do Sindicato da Alimentação, no Armour” – conta. “Dá para dizer que tenho a política no sangue, porque minha mãe foi operária de fábrica têxtil e, inclusive, trabalhou no Armour”.

Depois de completar as séries iniciais, e bem antes dos 18 anos, Glauber retornou a Livramento, com a família, aos 13 anos, tornando-se um aplicado estudante da Escola General Neto. “A saudosa professora Elza Serpa muito me estimulou na leitura, emprestava livros dela; tive professores que não falavam em partidos, mas em política, cidadania, nos temas do País, como a corrupção, a carestia que existia naquele ambiente efervescente. Tive colegas que eram muito politizados. Todo esse contexto ajudou na formação da minha consciência pessoal e política. Tive professores de alto nível de conscientização política e formação cidadã, como o professor Estoécel Santana” – recorda.

Dali, foi para o Alceu Wamosy, onde passou a integrar o movimento estudantil. Tornou-se presidente da União Santanense dos Estudantes Secundaristas (Uses). “Fomos às ruas, às centenas, no Fora Collor e contra o calendário rotativo. Dali sairiam minhas referências de luta. E, para o partido foi natural” – diz, referindo-se ao PT.

A memória do jovem Glauber traz referências da morte precoce do pai, que era Brizolista, da pobreza e da exclusão. “Aquelas imagens do Nordeste, com as pessoas passando fome e dificuldade não me saem da memória” – conta. Sociologia, História, Filosofia formaram, conforme Glauber, sua base de conhecimentos. Cita a professora Olga Albornoz nessa seara. Dali, segundo ele, formataram-se ideais de ajudar em construir uma sociedade melhor. “Entramos no PT como militantes e de um momento para outro, nos obrigamos à função de direção, de forma precoce por necessidade” – refere.

Um diamante que precisa lapidação 

“Retornei para Livramento e conheci a cidade nas campanhas políticas, andando pelas ruas, falando com as pessoas, constatando as potencialidades. Considero Livramento, pelas potencialidades que tem nos vários setores, do arroz, da vitivinicultura, do mel, da agricultura, pecuária, enfim, um diamante que precisa ser lapidado. Tenho dito que precisamos modernizar, expandir os potenciais e promover a diversificação como forma de desenvolvimento” – destaca Glauber Lima.

Glauber Lima afirma ter amadurecido muito, aos 41 anos. “Fui vaidoso. A política, no início, incita isso. Mas depois entendi que não leva a nada, só deprime. Afastei a mosca azul, pois entendi que as pessoas são seres interdependentes. Um precisa do outro, sempre, em algum momento e vice-versa e hoje, nós trabalhamos e expomos nossas ideias para as gerações em formação e para aquelas que virão, as novas gerações da cidade. Herdei uma cidade que não tinha muitas coisas, mas nossos filhos, netos e os filhos deles terão uma cidade melhor que nós precisamos ajudar a construir. Hoje temos universidades, investimentos eólicos, algo que não havia no passado recente” – comenta. 

Professor por vocação 

Glauber Lima nunca pensou em ser professor, pensava ter tino para ser advogado ou militar. Fez Estudos Sociais e considera que é vocacionado para lecionar. “Gosto de estar em sala de aula e a Geografia, que ensino, é multitemática, multidisciplinar, relaciona-se com todas as outras disciplinas. Posso dizer que me encontrei como professor” – opina, salientando que pensa em seguir lecionando, inclusive como futuro professor universitário. “Sinto-me muito bem em sala de aula” – afirma. Glauber admite que foi um leitor voraz, legítimo “rato de biblioteca”, mas hoje não consegue ler tanto quanto gostaria, nas áreas de política, sociologia. “A política tira tempo, mas isso não é desculpa” – destaca. Hoje acadêmico de Economia na Unipampa, reforça que teve na biblioteca pública Ruy Barbosa uma referência de leitura em sua juventude. “Só não consegui ajeitar foi minha letra, que é horrível” – brinca. “Cheguei a ler de um a 2 livros por semana, mas hoje está difícil. Já li a obra completa de Érico Veríssimo, de Jorge Amado e Guimarães Rosa” – afirma.

Glauber se define como muito caseiro, aproveitando os raros espaços de tempo livres das atividades profissionais e partidárias para ficar em casa com a esposa Varínia, com quem casou em 20 de novembro de 1998, e a filha Júlia, de 11 anos. “Compreendi que assim como nunca esqueci, nem poderia esquecer a data de meu aniversário de casamento, precisava estar mais presente em casa, com minha mãe, de 71 anos, e com minha companheira, esposa e parceira, que também é dirigente partidária e divide tudo comigo, com amor e carinho e junto com nossa filha. Entendi quando não acompanhei alguns momentos de minha filha, que não poderia mais absolutizar a política em minha vida. A vida passa muito rápido, esta passagem na Terra é rápida e não posso me permitir não compartilhar mais com minha família. O caso da eleição, por exemplo, é uma excepcionalidade” – pontua. 

Simbolismos de uma cultura 

Auto-definido como um sedentário, faz um mea-culpa para referir que precisa retomar as corridas e caminhadas. “Brinco dizendo que tenho boas pistas particulares, a Reverbel e a faixa do Porto Seco, mas preciso ir até elas, retomar isso, porque sei que é bom para a saúde” – pondera. “Aliás, quando enterrei meu pai, em 1997, deixei de fumar. Era fumante compulsivo e isso é interessante, pois há tempos atrás, fumar era sinônimo de modernidade e arrojo. As pessoas fumavam nos ônibus. Significa que ocorreram mudanças culturais, muitas delas extremamente positivas, como essa” – opina. Glauber Lima afirma que é bom de panela. “Gosto de cozinhar, mesmo chegando em casa cansado, à noite, vou para as panelas e se não tiver agenda de noite, melhor ainda. É uma forma de desestressar. Fico em casa, ouvindo música, brincando com minha filha, enfim…” – conta, relatando que não é adepto de televisão ou mesmo ouvinte contumaz de rádio. “Pego o controle, ligo em um canal, se está passando algo que interessa assisto. Do contrário, desligo e vou fazer outra coisa. Gosto de ouvir música e sou eclético. Acho que a gaita é o instrumento mais instigante e gosto muito de música gaúcha, mas também ouço clássicas. Lembro do meu pai, que ouvia muito rádio. Isso não herdei dele. Ele sempre estava ouvindo o Julio Rosenberg toda a madrugada, onde quer que estivesse. Eu ouço alguns programas, às vezes, não tenho o hábito de ouvir rádio como ele tinha” – relata. Dono de três cães e uma gata que foi achada em um contêiner de lixo, Glauber considera que um momento difícil foi no ano passado, quando teve que assumir, durante um ano, a função de diretor da Secretaria da Educação do Estado. “Ainda bem que conseguimos superar, vínhamos estar com a Júlia a cada 15 dias e conversávamos com ela sobre o fato de ser uma atividade passageira. Ela manteve um bom desempenho na escola” – recorda.

Colorado dos quatro costados, como diz o gaúcho, Glauber Lima contrariou o pai em uma coisa. Malber era Leão da Fronteira e Glauber é Grêmio Santanense. “Meu pai e meus tios Rui e Beco, lá em Esteio, eram doentes pelo Internacional. Nos campinhos de futebol, jogando, eu era o Falcão. Meu tio, Rui, pegava na minha mão e me levava para o Beira Rio, para assistir Manga, Falcão, Valdomiro. Vi muitos Gre-Nais quando pequeno” – lembra. Conta que tem uma diferença em relação a futebol. Em São Paulo, é Palmeiras, no Rio torce pelo Botafogo. “Torço pelo Nacional no Uruguai e depois da Seleção Brasileira, sou um apaixonado pela Celeste Olímpica. Meu avô Rosalino Lima era uruguaio, natural de Taquarembó. Curioso!? Lembro que estava com ele quando votou pela última vez. Ele, durante toda a vida, integrou o partido Blanco e quando consegui que ele votasse no Frente Amplio, seu último voto, ele tremia com o envelope antes de colocar na urna” – associa Glauber, em uma recordação, lembrando também da avó paterna, que faleceu de ataque cardíaco aos 33 anos e da bisavó, Josefa Pacheco, que era parteira e morava em Palomas. Morreu aos 106 anos sem nenhuma doença.

Atitudes e religiosidade 

Glauber Lima afirma que não tem inimigos. “Na política, a gente arruma alguns desafetos, especialmente porque sou um ariano impetuoso e até verbalmente agressivo em alguns momentos, mas isso é porque odeio irresponsabilidade e indisciplina” – pontua. Em relação a atitudes, afirma que gosta de fazer as coisas certas, bem feitas e gosta de estar entre pessoas que detêm mais conhecimento que ele. “Não tenho medo de sombras, mas não gosto de gente incompetente. Dizem muito que há políticos profissionais. Acho que política tem que ser feita de forma profissional, com respeito às pessoas em primeiro lugar. O profissionalismo tem que ser visto como é, com qualidade e moral, honestidade e capacidade” – destaca.

Em relação a religiosidade, Glauber Lima faz uma ponderação. “Entendi que as pessoas precisam ter, mais do que convicções, a crença em um ser superior. Mesmo com a compreensão marxista do início do nosso aprendizado, é fundamental compreender que há uma energia superior e o mais incrível é que consegui entender isso quando me senti vazio, enfrentando momentos difíceis. Foi o Leonardo Boff quem me fez entender tudo isso. Creio em Deus” – concluiu.

 

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