Gauchada faz a festa cívica na Fronteira

Embora número de cavaleiros seja menor do que o registrado em Alegrete neste ano, desfile farroupilha une brasileiros e uruguaios mais uma vez na Fronteira Mais Irmã do Mundo 

Pela primeira vez a bandeira da Inglaterra integra a composição de bandeiras na comissão inicial do desfile

Eram 8h54min, quando dois motociclistas da Brigada Militar chegaram ao palanque oficial com uma ordem do comando da Brigada Militar: iniciar o desfile às 9h, sem atrasos, sob qualquer circunstância. Naquele momento, em detalhes finais, um grupo da Prefeitura Municipal enfeitava o palanque destinado às autoridades, com verde, vermelho e amarelo. O prefeito Wainer Machado já estava no local, aguardando o início das atividades.

Os apresentadores oficiais, contratados pela comissão organizadora para as locuções, Zeca Pereira e Shana Müller, deram início aos trabalhos sem mais aguardar. O desfile internacional de 20 de Setembro começava com uma temperatura baixa, e ainda restavam alguns lugares vagos nas arquibancadas montadas na véspera.

Anunciada a primeira representação – da comissão organizadora e convidados – a marcar presença na rua dos Andradas, uma bandeira da Grã Bretanha despontava, em um dispositivo com outros pavilhões. O intendente de Rivera, Marne Osório, a cavalo, precedia a representação, contando com convidados da área diplomática.

Em um desfile que teve várias falhas organizacionais (como indisponibilidade de banheiros químicos, local adequado para a fluência das transmissões de rádio), todas corrigíveis, ficou marcado pela imparidade – seja pela disputa salutar com Alegrete, em termos de números de cavaleiros, estimulada pela rádio RCC FM – seja pela presença de autoridades diplomáticas, como o embaixador britânico Ben Lyster-Binns, o cônsul da República Tcheca, Jorge Goyenola e esposa, e o embaixador da Costa Rica, Jose Maria Fijerino Pacheco. A seguir, o desfile da Brigada Militar e Corpo de Bombeiros, que além de cavaleiros, divididos em frações, trouxeram também seus veículos e viaturas de trabalho.

Sendo o CTG mais antigo do Estado e representado em todas as cidades onde há aquartelamento da Brigada Militar, o Estância Velha da Tradição abriu o desfile junto com a representação da BM. A seguir, os demais Centros de Tradições Gaúchas, precedidos pelo Fronteira Aberta, Princesa Izabel, Rincão da Carolina, Sinuelo do Caverá, Presilha do Pago da Vigía, Crioulos da Fronteira e Ponteiros do Rio Grande. Foram essas as primeiras nove representações a realizar apresentação na Andradas e Sarandi. A seguir, o PTG Jayme Caetano Braun, o Galpão Tradicionalista Nascente do Ibirapuitã, o DTG Lenço Branco, Fogão Negrinho do Pastoreio – entidade com maior número de cavaleiros -, Movimentos Nativos Coxilha de Santanna e Upamaroty. Na sequência, o NSCCC, Os Tauras, Herança Xucra, Maragatos e Chimangos; Lanceiros do Ibicuí D’Armada, Caudilhos da AABB, Rodeio dos Gaudérios, Malacara 7, Rincão da Amizade, Passo do Guedes, Chão Batido, Pegados de Campo, Urutau, CTG Sentinelas do Planalto, Invernada Campeira Os Vaqueanos e PTG Tradição e Folclore da Mangueira Colorada. No que tange à ordem, o questionamento corrente no Largo Hugolino Andrade dizia respeito ao fato do CTG do Planalto não ter integrado a ponta, com os demais CTGs, assim como a inclusão de uma entidade não tradicionalista na ordem oficial do desfile.

Os detalhes, constatados, entretanto, não atrapalharam em nada o brilhantismo e a legitimidade da participação dos gaúchos, que encilharam com vistas a apresentar seu amor pela tradição riograndense ao grande público. Epopeia Farroupilha, Os Carrapateados, Tropeiros da Tradição, Raízes Nativas, Parceiros de Palomas, Tropeiro Velho e as entidades uruguaias concluíram o desfile.

 TEATRO 

O TEMÁTICO CRESCE E PRECISA SER PROPAGADO

Panorâmica mostra um fragmento do número de pessoas assistindo ao desfile de ontem

Essa foi uma conclusão geral entre aqueles que assistiram ao desfile temático de uma boa parte das entidades tradicionalistas. Novas formas e uso de materiais recicláveis bem trabalhados deram um visual positivo, assim como as encenações teatrais eram aplaudidas, sobretudo aquelas que demonstravam originalidade dentro do tema “Nossas Riquezas”. A considerar, nesse sentido, que esse ideal de espetáculo visual precisa ser propagado de modo a que não sejam mais vistos caminhões e carros sem decoração circulando no desfile, algo que já vem sendo tema de debates há vários anos. José Newton Canabarro, professor de teatro santanense, era um dos encarregados da avaliação do desfile temático e considerou que o espetáculo apresentado foi bastante interessante. Canabarro detinha-se, principalmente, na fidelidade ao tema. Foram várias as constatações de que o temático está tendo boa aceitação, embora sejam necessários investimentos para que a entidade possa construir seus veículos, porém, é preciso fomentar e estimular a adoção do desfile temático pelas entidades, aliando a história e a cultura ao gosto pelo cavalo.

Logo no início do desfile, uma situação inusitada: um dos carros puxado por trator, pertencente ao CTG Fronteira Aberta, quebrou e, em uma demonstração de pujança, um grupo de jovens que vinha realizando uma encenação sobre a alegoria simplesmente desceu do veículo e o levou, empurrando, rumo ao Uruguai. 

CAVALOS X INUSITADO

Em vários momentos, ao longo do percurso, foram percebidas algumas irregularidades por parte de um número muito reduzido de pessoas desfilando. A principal delas diz respeito ao fato de pais terem sido proibidos de levar crianças menores na montaria, e houve casos de pessoas que subiram a Andradas e, ao chegar à Tamandaré, pegaram crianças, passaram na frente do palanque oficial e desfilaram na Sarandi. Não foram verificadas ocorrências de tombos ao longo das quase seis horas de desfile, embora tenha havido algumas narrativas dando conta de situações inusitadas, como subir a cavalo nas calçadas, entre outros fatos. Houve rigor por parte da comissão organizadora e a Brigada Militar, retirando, inclusive, pessoas que apresentavam sinais de embriaguês ou que estavam com crianças menores, impedindo-as de desfilar. 

DESFILE URUGUAIO CRESCE AINDA MAIS

Embora os temporais registrados poucas horas antes do início do desfile tenham impedido algumas representações uruguaias de chegarem a Livramento para participar do desfile, as oito representações da Patria Gaucha demonstraram uma evolução significativa em relação aos anos anteriores. Desde o cordame até a indumentária, o colorido dos vestuários e as bandeiras, todos os aspectos, preservadas as identidades características de cada cultura, foram notáveis neste ano, emparelhando com a boa cavalhada e as pilchas adequadas usadas pelos gaúchos riograndenses, que celebraram com direito a láurea, em sua maioria, na manhã e início da tarde de ontem. 

por HENRIQUE BACHIO
henriquebachio@jornalaplateia.com

Tradição em evidência e na mira da equipe da RCC FM e Jornal A Plateia

Foram 5.625 pessoas que desfilaram em Alegrete, sendo que destas, apenas 4.909 formaram conjuntos de cavaleiros e cavalos, que deram a vitória à cidade vizinha da Fronteira Oeste

4.909 conjuntos de cavaleiros e cavalos desfilaram em Alegrete

Foram três horas e quarenta e cinco minutos de um desfile que prendeu a atenção dos ouvintes da RCC FM e que será contado em detalhes nas páginas do jornal A Plateia, entrando para a história como a primeira cobertura simultânea do evento que acontece nas duas cidades e que disputam já há muitos anos o direito de assinar o maior desfile Farroupilha do Rio Grande do Sul. Enquanto os gaúchos e prendas se preparavam para desfilar pela principal via de Sant’Ana do Livramento, em Alegrete, exatamente às 9h, teve início o evento. Orgulhosos, peões e prendas representaram vinte e uma entidades que trouxeram juntas um grande número de piquetes e grupos tradicionalistas. Sob o olhar atento de quem tem mais de vinte anos de experiência nas contagens oficiais do Carnaval de rua de Livramento, Marcos Abreu, os cavaleiros passaram sem perceber que cada participação era decisiva para tirar a grande dúvida da Fronteira Oeste. Mas afinal, quem tem o maior Desfile Farroupilha do mundo, Livramento ou Alegrete? 

Números grandiosos

Da esquerda para a direita: Cleizer Maciel, Marcos Abreu e Sandro “Cocó” (ao fundo) e Doriano Moraes, da rádio Minuano FM.

Ambas as cidades já podem se considerar imbatíveis quando o assunto é a reunião de homens e cavalos, já que em Algrete foram 4.909 conjuntos, enquanto Livramento contabilizou pouco mais de 4.600. Com a participação de representantes da comunidade alegretense, para que não pairassem sombras de dúvida sobre a idoneidade do processo, a conta final em Alegrete foi confirmada pelo radialista Dariano Morais, da rádio Minuano FM, e do tradicionalista Sandro Cocó. Foram anotados 105 cavaleiros que desfilaram mais de uma vez e descontados dos números finais. O desfile em Alegrete encerrou exatamente às 12h45, algumas horas antes do término oficial em Livramento. 

Gafe

O anúncio feito pela RBS TV, de que o desfile em Alegrete havia encerrado com participação de mais de 8.000 cavaleiros, surpreendeu até mesmo os representantes da imprensa alegretense, que reprovaram a divulgação do dado que não era, nem de longe, condizente com a verdade dos fatos.

Um olho na pista, outro no contador 

O santanense Marcos Abreu foi o contador oficial do desfile farroupilha em Alegrete

Sem deixar escapar nenhum detalhe, a RCC FM fez questão de levar para Alegrete um profissional acostumado ao processo de contagem de multidões. O funcionário público Marcos Abreu, acostumado a fazer a contagem dos integrantes das escolas de samba de Livramento, debruçou seu olhar criterioso e permaneceu com seu contador o tempo inteiro à mostra dos alegretenses, para que não restasse dúvida sobre a lisura do seu trabalho. O tempo todo em pé e atento, Marcos foi o responsável pelo repasse das parciais e pelos números finais que deram a Alegrete a vantagem, em 2012, de pouco mais de 300 cavaleiros. 

Dos alegretenses aos santanenses, a sugestão da criação de um modelo único de contagem 

A presença da equipe da RCC FM em Alegrete suscitou uma discussão que pode ser considerada, no mínimo, interessante: a necessidade de encaminhar, via suas respectivas regiões tradicionalistas, sugestão ao MTG – Movimento Tradicionalista Gaúcho, para a criação de um modelo único de contagem que possa ser adotado não apenas nas duas cidades, mas nas demais regiões do Estado, para que não pairem dúvidas ao fim de cada evento. Como saldo, a certeza de que ambas cidades são vencedoras por serem detentoras da imensa capacidade de reunir peões e prendas de todas as idades e que renovam, a cada ano, o seu orgulho e amor pelo Rio Grande do Sul e toda a sua história. 

Texto e Fotos por CLEIZER MACIEL
cleizermaciel@jornalaplateia.com

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