Enquanto não existir cidadania

A foto que contemplo na imprensa, de um pai levando nos braços o pequeno caixão onde está seu filho de dois meses, Luiz Lucas Pacheco, impacta-me nesta manhã de terça-feira.
O bebê morreu na noite de domingo, na UTI pediátrica do Hospital de Caridade de Ijuí, no Noroeste do Estado.
Ele quase certamente teria sido salvo não fosse vítima do verdadeiro caos em que está transformada a saúde pública do Estado e do país.
Luiz Lucas foi internado no Pronto Socorro de Pelotas uma semana antes de morrer. Permaneceu três dias na emergência, até que a Justiça determinou a sua imediata internação num hospital equipado com UTI Pediátrica.
Foi transportado de Pelotas para Ijuí num avião custeado pela Prefeitura da primeira cidade.
O tempo de espera foi demasiado, no entanto.
O diretor técnico do hospital explicou que, ao chegar, o bebê apresentava um quadro clínico gravíssimo e não respondeu ao tratamento. Já não havia mais tempo para superar a infecção, agravada por uma coqueluche. Acabou morrendo, com insuficiência respiratória.
Não se trata de caso isolado. Havia poucos dias e um casal de gêmeos de Piratini, no sul do Estado, também acabou morrendo, depois de peregrinar por vagas em UTIs neonatais.

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É demais.
Já me reportei ao drama dos homens e mulheres de idade avançada e que, nas nossas madrugadas frias, permanecem horas e horas numa fila, mendigando a ficha que lhes vai permitir a marcação de uma consulta médica.
A saúde passou a ser um retrato acabado das mazelas que poluem nossa administração pública.
Não se impute apenas a uma pessoa ou a um governante a culpabilidade por essa realidade dramática.
É um quadro que se repete, ano após ano, eleição após eleição, governo após governo.

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Só vejo uma solução para isso no horizonte: que a população se levante em protesto.

Que se façam ouvir, seja pelo voto, seja através de movimentos organizados, para protestar junto a hospitais e organismos da saúde pública.
Não basta que a imprensa retrate o caos.
É preciso combatê-lo e, para isso, de nada adianta que uma voz isolada proteste.
Vem-me à memória episódio não muito distante, de um servidor público do alto escalão da República que também morreu por falta de atendimento, depois de percorrer hospitais de Brasília. A própria presidente Dilma Rousseff determinou a apuração rigorosa do episódio, mas nunca mais se teve notícias do que lá foi feito.

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Definitivamente, enquanto a população der preferência à novela “Avenida Brasil”, da TV Globo – nada contra novelas, que esta, aliás, parece retratar outra realidade do país – ao invés de se informar sobre o que acontece com o julgamento do “mensalão” pelo STF, nada mudará.
Também nada vai se alterar enquanto não houver consciência política sobre direitos e obrigações de cada um.
E lamento, por fim, se o leitor desistiu de acompanhar este texto até o fim.

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