Racismo institucional foi tema de palestra em Sant’Ana do Livramento na sexta-feira

Ativista da oraganização internacional Global Right, o porto-riquenho residente nos EUA, Carlos Quesada falou para um público formado por brasileiros e uruguaios

Carlos Quesada (em pé), falou sobre o tema na sede do Centro Cutural Zumbi dos Palmares na última sexta-feira

Promoção de melhorias nas Leis que tratam especificamente dos Direitos Humanos, derrubar as barreiras que insistem em permanecer erguidas e se forjam como armas poderosas do chamado “racismo institucional”, aquele praticado pelas estruturas públicas e privadas do país e que é o responsável pelo tratamento diferenciado entre negros e brancos em políticas como a de educação, trabalho e segurança pública. Esse foi o tema da visita e palestra, ocorrida na manhã da última sexta-feira nas dependências do Centro Cultural Zumbi dos Palmares, em Sant’Ana do Livramento, do porto riquenho e que reside em Washington, EUA,Carlos Quesada, membro da organização conhecida como Global Right que atua em todo o mundo combatendo a discriminação em todas as suas formas. Para um público formado por representantes de entidades ligadas ao movimento negro no Brasil e em cidades uruguaias, Carlos trouxe a experiência de quem convive com a interpretação da legislação internacional vigente e com a possibilidade de comparação entre os povos em razão das duas andanças ao redor do planeta. Para o palestrante, o racismo não apenas ainda existe como é marca registrada, e forte, em diversos pontos do mundo.

 

Visitantes

O encontro contou com as presenças de visitantes de Salto, Artigas, Rocha, Canenoles, Montevidéu e Rivera, no Uruguai, e Sant’Ana do Livramento, pelo lado brasileiro.

ENTREVISTA

A Plateia: Senhor Carlos, o racismo institucional realmente existe ?

Carlos Quesada: Sim, existe. O racismo institucional existe sim, e a população afrodescendente das Américas é a maior vítima dessa forma de discriminação racial. O racismo é um elemento ideológico que ainda está presente na nossa sociedade.

A Plateia: Como se dá e quais são as formas identificadas do racismo institucional ?

Carlos Quesada: Uma das formas é a falta de acesso à educação por parte da população afrodescentende. Outra é a ausência de contratação em empregos de governo, baixa igualdade de condições. Quando chega um afrodescentende e um não afrodescendente, a tendência ainda é pela contratação daquele que não é afro. No caso da saúde, por exemplo no Brasil, o índice de mortalidade materna de mulheres negras é três mais alta do que em mulheres brancas. Isso não tem a ver apenas com o acesso aos serviços de saúde, mas também com o tratamento que as mulheres negras recebem nos centros de saúde. Isso é racismo institucional.

A Plateia: Como se combate essa forma de racismo ?

Carlos Quesada: Eu creio que o mais importante é reconhecer que o racismo existe. A partir daí é necessária a implantação de políticas de ação afirmativa para combater. O mais importante é sim o reconhecimento. No caso brasileiro esse reconhecimento existe a nível federal, mas é aplicado com distinção a nível estadual. A discussão se dá pela necessidade de entender como melhorar esse processo.

A Plateia: Entre os países latino americanos, quem está mais avançado na implantação dessas políticas ?

Carlos Quesada: O Brasil está mais avançado. A Colômbia está em segundo lugar. Os Estados Unidos está fomentando um debate constante. Tivemos muito sucesso nos anos 70 nos Estados Unidos, mas agora estamos muito mal lá. A discriminação lá se dá contra negros, latinos, etc, e isso ainda é muito complicado.

A Plateia: Como o senhor enxerga essas diverenças nos Estados Unidos, lugar onde reside, e que é tido como um pais desenvolvido ?

Carlos Quesada: O nível de discriminação racial em Washginton, onde eu moro, por exemplo, é velado. Existe o que chamamos de discriminação urbana muito grande. Os bairros onde vivem os negros são geralmente mais baratos do que aqueles onde vivem os brancos. Se um negro quer viver em um bairro de população branca, este pode, desde que tenha dinheiro, porém, como muitos não tem e não conseguem ter acesso pela falta de políticas, aí está uma forma de discriminação. É assim como se dá um pouco a discriminação lá, enquanto aqui na América Latina ela está em outro nível, falta de acesso a educação, saúde, etc. O impacto é sempre o mesmo.

A Plateia: Qual a solução para isso ?

Carlos Quesada: Essa é a pergunta do milênio. Primeiro o reconhecimento por parte do estado de que existe a discriminação racial. Segundo, a implantação de políticas de ação afirmativas para remediar, eliminar as consequências, promover a diversidade e entender as diferenças culturais. Já existe uma legislação internacional criada em 1965. O problema é que os países muito pouco ou apenas parcialmente.

 

 

Por Cleizer Maciel

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