Enfim, emoção nas eleições

Às vésperas das eleições presidenciais de 1989, estávamos um grupo de jornalistas a conversar, e o tema, logicamente, era os rumos daquele pleito, ao final vencido por Luis Inácio Lula da Silva. O PT chegava pela primeira vez ao poder central.

Um dos colegas, também político e conhecido por seu talento para produzir frases de efeito, respondeu assim, quando perguntado sobre o candidato de sua preferência:

- Sou coerente. Voto no único candidato de esquerda desta eleição, o Serra.

Risos à parte, esse é o economista José Serra: um homem de esquerda. Tornou-se exilado, em 1964, depois de ter sido o mais jovem orador do célebre comício da Central do Brasil.

Também é reconhecido por sua capacidade administrativa, todos lembram seu trabalho no ministério da Saúde. Foi prefeito e governador de São Paulo, mas não conseguiu chegar à Presidência da República. Lula o derrotou duas vezes e, na mais recente tentativa, perdeu no segundo turno para a presidente Dilma Rousseff.

Serra é um homem de muitos predicados, mas sua expressão facial é dura demais, não dá para se dizer que seja um tipo simpático.

Essas considerações me ocorrem depois do anúncio por ele feito, via twitter, nesta segunda-feira, de que será candidato, novamente, à prefeitura de São Paulo.

É um fato político relevante e trás um pouco de sabor às eleições deste ano, pelos inevitáveis reflexos no panorama do quadro da sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2014.

Há várias questões em jogo.

Serra sai, automaticamente, da corrida presidencial, quer dizer, renuncia ao sonho de presidir o Brasil?

Não. Francisco Henrique Cardoso, de Nova York, manda dizer: política é coisa muito dinâmica e a decisão de concorrer “dá a ele uma revitalização política”.

Mas não é fácil o caminho.

Primeiro tem que vencer a eleição e essa não é uma tarefa simples. Se o principal adversário, o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, não é uma figura assim tão expressiva, tem com ele a sombra majestosa do ex-presidente Lula. Que o inventou candidato petista em São Paulo, assim como fez com Dilma Roussef.

Serra, se vencer, não poderá repetir a renúncia ao governo municipal paulista, para concorrer a outro cargo, como já fez em 2006, depois de um ano e três meses de mandato na prefeitura. Seria um suicídio. Já não vai ser fácil convencer o eleitorado de que não repetirá o gesto.

Além disso, Aécio Neves passa a ter o caminho livre para sua ambição de chegar à presidência. Mas vai precisar, por sua vez, de um projeto de país. E que seja ambicioso, realista e alternativo. A presidente Dilma navega em águas plácidas e a continuar o quadro econômico atual – longe de crises – ela é quase imbatível numa candidatura à reeleição.

A presença de Serra no cenário eleitoral tem o mérito de pelo menos trazer emoção ao quadro até aqui amorfo das próximas eleições.

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