O que fazer com aquele sofá velho e inútil?

“Eu tenho um sofá velho. Não tenho espaço para ele. O que faço?”

Em um dos vários pontos da cidade, pneus de moto, de bicicleta, sofá, caixas e vários outros materiais jogados fora

Esta é apenas uma das perguntas que exprimem dúvidas dos santanenses em relação a móveis, equipamentos, eletro-eletrônicos e outros objetos e aparelhos de porte que deixam de ser utilizados. O que fazer com o que não presta mais para nada?

A resposta é imprecisa e a única forma de solucionar esse tipo de problema, além de deixar jogado no fundo do pátio, é com muita criatividade. Ou, recurso mais fácil e comum, é trocá-lo de local. Resolve o problema de um, mas cria problema para muitos.

Livramento não dispõe de coleta nem local para destinação desses materiais que, na grande maioria das vezes, são compostos de diversos elementos. É, ao mesmo tempo, um problema visual, de ocupação de espaço, ambiental e, completamente ainda sem solução para esse tipo de situação, que ocorre de forma mais frequente do que se possa pensar em uma população de mais de 80 mil habitantes.

Se um sofá já é um problema, imagine uma geladeira, um armário quebrado, um guarda- -roupas e, em outra área, uma carcaça de automóvel.

Há, ainda, na mesma seara, problema mais grave. São os elementos poluentes, como pilhas, baterias de celulares, embalagens de produtos químicos, gases de alguns equipamentos eletrodomésticos, sem mencionar aquele pózinho branco das lâmpadas fluorescentes ou na composição das telas de monitores de computador. Fica evidente que um problema causa outro. O cidadão precisa descartar, por exemplo, o sofá que protagoniza a foto. A empresa que faz a coleta do lixo, a Ansus, não recolhe esse tipo de objeto – assim como alguns outros, até de menor porte -. Como não há recolhimento, obviamente, também não há local público para dar destinação, nem lixão, aterro ou semelhante.

A solução para muitos é pagar um frete de carroceiro ou de veículo automotor e pedir que o objeto seja colocado em local descampado, nos arredores da cidade. Dizer que as pessoas não incorrem nesse erro por falta de soluções, é hipocrisia.

Algum tempo depois, percebe a sociedade que simplesmente o problema trocou de lugar, pois foi transportado do bairro X para o local Y.

Não é a questão dos trambolhos de grande porte.

Também há o problema dos descartes de pequeno porte, mas de grande perigo, que vão desde agulhas, aparelhos de barba até baterias de celular, embalagens vazias de agrotóxicos.

Em um dos vários pontos da cidade, pneus de moto, de bicicleta, sofá, caixas e vários outros materiais jogados fora

Pilhas e baterias são produtos que merecem cuidados especiais na hora de serem descartados, pois trazem substâncias tóxicas – metais – em sua composição.

Nas cidades onde há aterros sanitários, com sistemas de impermeabilização do solo, os metais tóxicos não causam danos ao meio ambiente. Mas, na maioria das cidades brasileiras os resíduos ainda são depositados em lixões, que não têm qualquer sistema de impermeabilização. Assim, as substâncias tóxicas vão para o solo e contaminam os lençóis d’água subterrâneos.

A legislação brasileira proíbe o lançamento de pilhas e baterias a céu aberto, tanto em áreas urbanas como rurais, mas ainda não há um sistema estruturado de recolhimento de pilhas e baterias. Por lei, os fabricantes devem receber esse tipo de material descartado e encaminhado pelo consumidor.

Como descartar então?

Para começar, o consumidor consciente pode colaborar conhecendo um pouco mais a natureza dessa classe de produtos. A partir daí, fica mais fácil buscar a destinação final adequada para pilhas e baterias.

Pilhas e baterias de zinco-manganês, alcalinas-manganês, lithium, lithium ion, zinco-ar, niquel metal, hidreto, ou seja, as comuns, não-recarregáveis e as mais encontradas no mercado. Podem ser descartadas no lixo doméstico porque carregam substâncias tóxicas em níveis baixos e permitidos pela legislação, ou seja, que não agridem o meio ambiente.

Baterias de chumbo ácido (usadas em automóveis), de níquel cádmio (as do tipo recarregáveis, como as usadas em telefones celulares) e de óxido de mercúrio (pilhas comuns, mas que já não podem ser legalmente fabricadas no Brasil) devem ser recolhidas pelo comércio e encaminhadas aos fabricantes ou importadores para destinação adequada.

O consumidor pode encaminhar as baterias de celulares também para as assistências técnicas de operadoras de celular ou lojas que vendem aparelhos celulares. As pilhas de óxido de mercúrio são as de marcas piratas, que desobedecem à legislação, não pagam impostos e ainda contaminam o ambiente.

A sugestão do secretário

Titular da pasta de Serviços Urbanos, o secretário Marcirio Silva não vê solução para o problema. “O que o cidadão teria que fazer é quebrar a madeira, separar os panos, os ferros, parafusos e dar um destino respectivo para cada um” – disse ele ontem, ao ser questionado sobre o problema. A ideia, conforme ele, é desmanchar o móvel, equipamento ou utensílio e, separando em partes, dar o destino específico. “O ferro vai para o ferro velho, o alumínio para quem compra para reciclagem; o plástico é separado e colocado para que a coleta do lixo retire; a madeira pode ser enterrada ou queimada, até mesmo na churrasqueira ou na lareira” – opina ele, destacando que realmente trata-se de uma situação ainda sem solução, seja em função do tamanho de determinados móveis, seja em função dos elementos com os quais são compostos.

A experiência de recolhimento de Rivera

Região da linha divisória, onde são encontradas várias embalagens de óleo, aditivos, diesel, filtros, entre outros

Rivera resolveu, pelo menos parcialmente, o problema. Por intermédio de parceria com ONGs e investimentos de recursos captados em âmbito internacional, mantém a coleta de resíduos e, em um dia por mês, avisado previamente para as respectivas vizinhanças, é feito o recolhimento desses móveis e utensílios de grande porte. É o dia da coleta extraordinária, data que de forma antecipada, é comunicada aos cidadãos. É o dia em que é recolhido tanto o sofá velho, quanto as ramagens e sujeiras das podas das árvores dos pátios. A questão não se resume a simplesmente recolher. Também é dado destino aos materiais.

Há os que ficam no aterro sanitário riverense e há aqueles que são transformados, por intermédio do trabalho de 27 classificadores (24 em Rivera e 3 em Tranqueras) – todos empregados formais – da Organização Não Governamental Sendero de Vida, que é responsável pela gestão desses trabalhadores, outrora catadores.

O técnico em gestão ambiental Victor Pereira, que integra a ONG Sendero de Vida, confirma que todos passaram por treinamentos e qualificações, além de terem à disposição novas informações por intermédio de oficinas específicas.

Na Divisão de Higiene – um dos subdepartamentos da Intendência de Rivera -, na avenida Itália, ontem estavam em reunião os assessores técnicos Rodrigo Vargas (biólogo) e Iliana Blanco (médica veterinária), que atuam sob a coordenação do diretor Hugo Pablo Garcia (que está licenciado por alguns dias).

Ambos explicaram sobre os projetos que originaram essa nova realidade, gerida desde a Ley de Envase de 2006, sistematizada em 2007 e, em 2010 e 2011, respectivamente para cada projeto, consolidados. Essa lei obriga as empresas a investirem em um fundo específico para custear ações ambientais, como contrapartida pelas embalagens que produzem para levar seus produtos ao consumidor.

Segundo Iliana Blanco, integram a parceria a Dinama, Câmara Industrial, Ministério de Desenvolvimento Social e a Intendência de Rivera.

O primeiro projeto, com financiamento internacional abrange 400 quadras de Rivera, em que duas vezes por semana, os classificadores buscam de porta em porta, resíduos secos e molhados.

Já sensibilizados, segundo Iliana, os moradores fazem a entrega dos resíduos secos. Esses materiais são colocados em contendores e, ao fim do dia, levados para o aterro sanitário para separação e classificação.

“Eles recebem salários fixos mais um percentual dividido em partes iguais, gerado a partir do resultado da comercialização dos materiais” – sintetiza.

No local, há uma estrutura completa de maquinários, prensa, balança, galpões para guardar o equipamento, além de um outro projeto ecológico – que consiste em uma horta orgânica, que é mantida e cuidada pelos classificadores; os quais dela retiram seus alimentos e comercializam o excedente de produção.

Rodrigo Vargas, biólogo; Iliana Blanco, veterinária e Victor Pereira, técnico de gestão ambiental, durante a reunião de ontem pela manhã na Divisão de Higiene

As 400 quadras são divididas por circuitos – cada qual com sua cor – sendo que o morador recebe um calendário com todas as informações sobre todas as coletas de resíduos que serão realizadas e pode se programar. Esse projeto foi implantado com recurso de em torno de 840 mil euros.

Quanto aos eletro-eletrônicos, por enquanto, também os vizinhos riverenses carecem de soluções, especialmente peças de computadores e outros equipamentos semelhantes.

O segundo projeto, que envolve a coleta de resíduos especiais e também o “levante extraordinario” (que é o dia para recolhimento dos móveis, utensílios, pasto do corte de grama, galhos das podas de árvore, etc…). Neste, o investimento foi entre 7 e 8 milhões de Pesos uruguaios. Foi feita a divisão em 12 zonas, sendo o resíduo vegetal transformado em compostagem e entregue a produtores rurais para melhoramento do solo. São 8 trabalhadores atuando neste segmento, responsáveis pela separação e destinação daqueles materiais que têm possibilidade de destinação. Já aqueles móveis ou itens que são levados para o aterro, os quais não têm possibilidade de reciclagem, permanecem lá.

Em oportunidade próxima, será agendada uma visita à estrutura do complexo de reciclagem de Ribera, em combinação com a Editoria de Espanhol, que colaborou na elaboração desta reportagem especial.

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