Jornalista aposentado é morto a golpes de pá por vigia de obra

Crime aconteceu no interior de obra próxima ao asilo Mário Motta, no noite de sábado

Nascido em Sant’Ana do Livramento em 25 de janeiro de 1955, o jornalista Ruy Carlos Arteche Silveira atuou nos principais veículos impressos do grupo RBS no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde trabalhou no Jornal Santa Catarina, em Blumenau, e depois nas editorias de Economia e de Geral do Diário Catarinense, em Florianópolis. Estava aposentado há dois anos, quando retornou para a cidade.

Um crime ainda não totalmente esclarecido, ocorrido na noite de sábado passado, resultou na morte do jornalista santanense Carlos Ruy Arteche Silveira, de 55 anos. Aposentado, depois de exercer a profissão em alguns dos principais veículos impressos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, Silveira havia retornado para Livramento há cerca de dois anos. Atingido por golpes de pá na cabeça, ele morreu às 2h35min deste domingo, na UTI do hospital Santa Casa de Misericórdia.

 

O autor da agressão foi preso em flagrante por patrulheiros da Brigada Militar, quando ainda batia com a pá contra o jornalista, que se encontrava caído. Identificado como Washington David Vellozo Barboza, uruguaio de 18 anos, ele chegou a informar na Delegacia de Polícia ter nascido dia 04 de março de 1994, o que lhe daria a condição de menoridade. Sem documentos que provassem essa informação, contudo, ele ficou detido na DPPA até a tarde de ontem, quando então foi recolhido para a Penitenciária Estadual.

Extraoficial

A autoridade de plantão ainda aguardou a chegada de familiares e do advogado do rapaz, mas o profissional contratado não se encontrava na cidade. Em razão disso, o jovem não chegou a prestar depoimento, o que deverá acontecer nas próximas horas. Extraoficialmente, ele disse que agiu em legítima defesa, após ter sido agredido pelo jornalista, a quem conheceu anteriormente em um bric de móveis usados onde ele trabalha durante o dia.

Na noite de sábado, Carlos Ruy foi até a casa em obra que o jovem vem cuidando, à noite, há cerca de três meses, e o teria convidado a dar uma volta. Washington teria rejeitado o convite e, segundo versão extraoficial, pedido que o jornalista fosse embora do local. Depois disso, teria ido até um armazém comprar um refrigerante e, ao retornar, encontrou o Carlos Ruy ainda no local, o que teria acalorado a discussão. O jovem teria exigido que ele fosse embora, tendo o jornalista supostamente reagido jogando uma cadeira contra as costas do rapaz.

A agressão teria deixado marcas nas costas de Washington. Ao invés de fugir, porém, ele teria reagido contra o agressor, utilizando uma pá que se encontrava no local. Carlos Ruy sofreu vários cortes na cabeça, conforme constatou o médico que o atendeu no Pronto Socorro.

O jovem Washington foi recolhido para a Penitenciária Estadual em Livramento na tarde de ontem. Ele não chegou a ser ouvido pela autoridade policial mas, extraoficialmente, alegou legítima defesa

Denúncia

 

A agressão ocorreu pouco depois das 23 horas de sábado. Uma patrulha da BM que circulava pela rua Ataliba Gomes foi avisada sobre a ocorrência do crime por um homem que tripulava um carro e interceptou a viatura policial. Quando chegaram no local do crime, os patrulheiros fizeram contato com a moradora Maria Isabel Custódio Nunes, proprietária de uma casa na mesma rua Ataliba Gomes, nos fundos da qual fica a obra. Autorizados por ela, eles entraram pelo pátio e chegaram até a obra.

Segundo relataram na DPPA, ao iluminar o interior do prédio em construção, com uma lanterna, viram quando Washington batia com a pá em Carlos Ruy, que já estava caído. Imediatamente, sob a mira de suas armas, exigiram que o rapaz erguesse as mãos sobre a cabeça e se aproximasse. Ele foi detido e levado para a DPPA, enquanto o jornalista foi socorrido pela ambulância do Corpo de Bombeiros e levado para o Pronto Socorro.

Os PMs também recolheram na obra a pá utilizada na agressão e a carteira de Carlos Ruy, contendo sua CNH, a importância de R$ 104,60 e um cartão de créditos Ourocard/Visa. Como a vítima ainda estava com vida, não chegou a ser realizada perícia no local. Carlos Ruy chegou com vida ao hospital e foi internado na UTI da Santa Casa, mas não resistiu aos sérios cortes na cabeça e faleceu já na madrugada de ontem.

Tributo ao profissional

“Devo ao Ruy Arteche três fatos importantíssimos de minha carreira profissional: o de estar em Zero Hora, a minha paixão pelo setor rural e o gosto pela edição.

Um convite de Ruy Arteche, em 1989, me tirou da revista Veja e me trouxe de volta a Zero Hora, onde ele editava o Campo&Lavoura. Ali, comecei a me encantar pelo mundo da agricultura e da pecuária, graças ao Ruy – e assim fui aumentando meu amor pelas coisas gaúchas, pelo campo, pelo pampa. Também graças ao Ruy percebi o valor de uma reportagem bem editada. Vi – enquanto acompanhava ele lapidando as páginas – que um bom editor pode valorizar uma apuração mediana. Mas vi especialmente que uma péssima edição pode sepultar uma grande apuração. Assim, agreguei ao meu currículo de repórter o de editor também, e fui me tornando assim um jornalista um pouquinho mais completo.

Recebi a notícia da morte do Ruy com uma forte pontada de melancolia, escura como as nuvens que nesse momento se avizinham de Porto Alegre”.

Ricardo Stefanelli
Editor Zero Hora

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